Brasil

Baixa taxa de vacinação e fake news explicam a volta do sarampo ao país

Apenas 83,2% da população brasileira tomou ao menos uma dose da vacina. O índice recomendado pela OMS é de 95%

Otávio Augusto
postado em 05/07/2018 11:56
A vacina pode ser tomada em qualquer idade e é a melhor forma de se proteger da doença, altamente infecciosa
Após dois anos da erradicação do sarampo, o vírus voltou a afetar o Brasil. Cinco estados registraram casos da doença: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Amazonas e Roraima. Nos dois últimos, a situação é de surto. A vacinação é a principal e melhor forma para se proteger contra o sarampo. A imunização pode ser feita em qualquer idade.

A preocupação do Ministério da Saúde é que a imunização está em baixa. Cálculos feitos a pedido do Correio mostram que, em média, 83,2% da população brasileira tomou pelo menos uma dose da vacina. O índice, segundo avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS), deve ser de 95% ;objetivo alcançado entre 2015 e 2016.

Os casos se multiplicaram desde fevereiro: são 265, no Amazonas; 200, em Roraima; sete, no Rio Grande do Sul; dois, em Mato Grosso; e um, no Rio de Janeiro. Há, ainda, mais de 1,6 mil casos suspeitos. Desde fevereiro, o Ministério Saúde monitora a situação. De acordo com análises da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o vírus que circula no Norte do país coincide com o que afeta a Venezuela.

No Brasil, os últimos casos de sarampo ; antes de a doença ter sido considerada erradicada ; ocorreram entre 2013 e 2015, sendo confirmados 1.310 adoecimentos. Pernambuco e Ceará concentraram as infecções. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) deu ao Brasil em 2016 certificado de eliminação do sarampo, uma doença viral altamente contagiosa, considerada grave. A transmissão se dá de forma direta, de pessoa para pessoa, por via respiratória ao tossir, espirrar, falar ou respirar.

Em nota, o Ministério da Saúde ressalta a necessidade de a população procurar os postos de vacinação para atualizar a caderneta. ;Além de evitar novos casos da doença, a estratégia governamental quer impedir que o vírus volte a circular de forma sustentada no Brasil;, destaca a pasta, em nota.

Eliana Bicudo, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, pede atenção à imunização. ;O sarampo é uma doença que, até pouco tempo, tratávamos como controlada. Os pais não se preocupam com as vacinas, as escolas não estão cobrando o cartão vacinal para matrícula em escolas públicas e privadas. Aliado a isso, tem as fake news que mistificam a vacina. Vivemos tanto tempo hoje por conta da imunização. É um grande avanço da medicina;, alerta.

Para Flávia Bravo, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, falta noção de risco à população. ;As pessoas deixaram de temer as doenças e de valorizar a vacinação. Vacina não é só coisa de criança. Basta observarmos que muitos adultos estão com sarampo. As doenças podem estar controladas, mas elas não são eliminadas do planeta e quando elas voltam trazem muito sofrimento;, destacou.

Pólio preocupa


Outra preocupação é com a poliomielite. Segundo o Ministério da Saúde, 312 municípios estão com cobertura vacinal abaixo de 50% para a doença. A situação afeta sobretudo crianças menores de cinco anos. Há dois anos, o Brasil não ultrapassa a meta de 95% de cobertura vacinal contra poliomielite. No último ano, somente o Ceará atingiu o índice. Atualmente, a cobertura é de 77%. Também conhecida como paralisia infantil, é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de paralisia flácida de início súbito.

Entre 6 e 31 de agosto haverá campanha de imunização contra a doença. Até lá, a ordem é que as secretarias estaduais intensifiquem a vacinação. No Brasil, a vacina da poliomielite faz parte da rotina do Calendário Nacional de Vacinação e é ofertada para crianças aos dois, quatro e seis meses, com reforços aos 15 meses e aos 4 anos. Já adolescentes ou adultos que não tomaram todas as doses, podem iniciar a imunização imediatamente.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou nota técnica há duas semanas ressaltando a necessidade de ;atenção redobrada; para a detecção de poliomielite. A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez alerta semelhante. O último caso no país aconteceu em 1990. Nas Américas, o adoecimento mais recente ocorreu em 1991, no Peru.

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