Ana Viriato, Ana Maria Campos
postado em 08/07/2018 08:00
À frente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio) desde 2011, Adelmir Santana, 73 anos, pretende alçar voos mais altos. Em 21 de setembro, disputará com o amazonense José Roberto Tadros a presidência da Confederação Nacional do Comércio (CNC), que administra um orçamento de R$ 9 bilhões ao ano. Em entrevista ao Correio, o ex-senador afirmou que aderiu à empreitada para renovar a estrutura e o formato de atuação da instituição federal, comandada por Antônio de Oliveira Santos há 38 anos. Uma das promessas é, justamente, dar fim à possibilidade de uma mesma pessoa se reeleger sucessivas vezes, a qual considera ;um dos malefícios do sistema;. ;O ideal seria, no máximo, uma reeleição, para haver adequação ao sistema republicano brasileiro;, pontua.
Maranhense natural do município de Nova Iorque e morador de Brasília há 55 anos, Adelmir pretende usar a experiência política e o bom trânsito entre os Três Poderes para fortalecer a CNC. O presidente da Fecomércio-DF defende que a instituição amplie a participação e marque posição nos debates levantados pelo Congresso Nacional que podem mudar os rumos do setor produtivo, como a reforma tributária. ;Não podemos deixar que a confederação fique focada apenas em questões internas. Temos de colocar a CNC como legítima representante dos segmentos junto aos poderes públicos;, argumenta.
Envolvido na disputa pelo comando da CNC, o ex-senador não terá o mesmo papel nas eleições gerais, em outubro. Na visão dele, por ora, nenhum candidato à Presidência da República representa os interesses do empresariado. E mais: garante que os defensores da revogação da reforma trabalhista não receberão votos do setor produtivo. ;Não foram cortados direitos, mas, sim, criadas opções de melhoria das relações entre empresa e trabalhadores;, aponta. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Como será a postura de Antônio de Oliveira Santos, atual presidente, nas eleições para o comando da CNC?
Ele não será candidato. Se coloca como um magistrado. Mas, na verdade, percebemos nitidamente que tem preferências. Ele afirma que não. Tenho dito que, se não tem, deveria ter, porque quem dirige uma instituição por tanto tempo tem que construir seu sucessor. Eu me insurgi contra as candidaturas postas. Não que eu tenha algo contra os demais interessados, mas por achar que tenho pré-requisitos para ser um deles.
Como avalia uma única gestão por 38 anos?
É um dos malefícios do sistema. Isso não é nada republicano. Mas, como o processo permite eleições sucessivas, dificulta a renovação. Uma das nossas bandeiras é que não haja essas reeleições sucessivas. O ideal seria, no máximo, uma reeleição para haver adequação ao sistema republicano brasileiro. Se for eleito, imediatamente, reformularemos o estatuto.
E o que o senhor pretende mudar em relação à gestão atual?
É natural que uma instituição que tem o mesmo dirigente há tantos anos permaneça acomodada. Eu apresentei uma carta de propostas, que chamo de Novo Amanhã, e me baseei em eixos importantes: mais protagonismo, renovação, valorização e inovação. Dentro de cada um desses eixos, há várias metas. O que imagino: no país como um todo, as coisas estão mudando. Precisamos ser muito mais proativos. Você precisa buscar sua legítima representação. Ainda mais num segmento de tamanha importância como é o comércio, serviço e turismo. Essa representação só é possível se, de fato, você buscar esses eixos que acabo de citar; se estiver focado nessas questões. A CNC tem de definir seu próprio destino, valorizar as federações estaduais e os sindicatos, e buscar o processo de mudança.
O senhor acha que o histórico político facilita neste momento?
Não necessariamente. Mas é algo importante na qualificação do candidato. Sou presidente de uma Federação que não está entre as maiores, mas é na capital do país. Uma capital onde moro há 55 anos. Sou presidente há 17 anos da Fecomércio. Então, veja, o fato de ter sido senador da República dá uma amplitude maior de representação e aumenta o trânsito entre ministérios e demais poderes da República. Tenho relações pessoais com alguns por ter sido senador. Conheço como funcionam os poderes e como influenciá-los. Além disso, fui presidente por dois mandatos do Conselho Nacional do Sebrae. Também fui presidente do Conselho Regional do Sebrae local. Tenho uma ampla gama de exercícios e atividades que me credenciam como candidato. Defendo uma coisa: a sede da CNC de direito é no Distrito Federal. Eles nunca trouxeram a instituição para a capital. Há, aqui, um gabinete de alto custo e um que, de fato, funciona no Rio de Janeiro. Claro que a transição não pode ser atabalhoada, mas uma das nossas proposições é trazer a sede da CNC para a capital do país, onde já deveria estar desde 1960.
O senhor, como candidato à presidência da CNC, não concorrerá nas eleições gerais do DF?
Estou fora de política partidária. Não tenho mais pretensões deste tipo. Mas faço política todos os dias, por morar na capital, conversar com políticos da cidade e de fora.
O presidente Michel Temer (MDB), de alguma forma, pode influenciar as eleições da CNC?
Creio que não. É um eleitorado muito diferente. Não é aquele que sofre a influência de poderes. É um eleitorado que tem de se conscientizado da importância de mantermos esta instituição de uma forma grandiosa.
Há algum candidato com mais identidade com o setor?
Vimos que, na sabatina da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Bolsonaro foi aplaudido e Ciro, quando falou da reforma trabalhista, vaiado. Porque isso é uma miopia. A reforma trabalhista foi apoiada por todos os segmentos do setor produtivo nacional. A CLT é uma lei velha, que dificultava as relações. Não foram cortados direitos, mas, sim, criadas opções de melhoria das relações entre empresa e trabalhadores. Acho que essa colocação fere um pouco os tímpanos de qualquer um que tenha a vivência do dia a dia e das dificuldades que existiam até então.
Quem defender isso, então, perde o voto dos empresários?
Certamente que sim. Alguns setores corporativos chegaram a questionar a legitimidade da lei, do ponto de vista constitucional, alegando que a sociedade não a discutiu. Ou quais contratos abarca. Mas essa lei foi amplamente discutida. Eu mesmo participei de seminários e encontros. Audiências públicas aconteceram na Câmara e no Senado. Dizer que a lei não foi discutida é colocar em xeque ou em dúvida a representação, tanto do ponto de vista político quanto as representações empresariais e dos trabalhadores. Todos participaram. Se houver algum problema, essas representações devem ser revistas, como acontecerá em outubro.
Uma plataforma dos candidatos é a reforma tributária. Se o senhor chegar à presidência da CNC, pode ajudar a influenciar uma reforma que seja de maior interesse do setor produtivo?
Claro que sim. Em tudo que se produz no Brasil, o grande mentor é o Estado. A carga tributária brasileira é insuportável. Não é o empresário quem paga, é o consumidor. O empresário é uma coletoria. Mas, se a carga tributária fosse menor, certamente, os negócios seriam melhores e cresceriam mais rapidamente. A carga tributária, principalmente aquela incidente de forma indireta para os consumidores de baixa renda, é uma coisa alarmante. Certamente, isso será uma das nossas bandeiras na CNC. Aliás, não apenas a reforma tributária, mas uma reforma do Estado brasileiro. Não dá para continuar com um Estado desse tamanho da forma que ele atua. Inibe o desenvolvimento e os investimentos internacionais.
Qual a principal bandeira da sua chapa?
O processo de inovação. Não podemos ter uma instituição que fique focada apenas em questões internas. Temos que colocar a CNC como legítima representante de nossos segmentos junto aos poderes públicos. Para isso, precisamos de pessoas que recebam as incumbências e as executem. Outra questão é: temos, hoje, braços sociais do sistema (Sesc e Senac), que se destacam com uma forte presença no Brasil, do ponto de vista da formação profissional e das atividades sociais voltadas para trabalhadores. Pretendemos que as tarefas dessas entidades sejam executadas pelas sedes estaduais, deixando os departamentos nacionais responsáveis somente por atos normativos. Ainda há necessidade de equalização dos recursos. Cabe ao Nacional potencializar os estados com pouca arrecadação, destinando recursos com base na análise de projetos.