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Em 5 meses de intervenção, apreensão de armas caiu e chacinas aumentaram

Estudo do Observatório da Intervenção da Universidade Cândido Mendes mostrou que as chacinas aumentaram 80% e as mortes em chacinas aumentaram 128%

Ingrid Soares
postado em 16/07/2018 21:47
Militares em pastelaria, no Rio de Janeiro
;Muito tiroteio, pouca inteligência;. Esse é o título do balanço divulgado nesta segunda-feira (16/7), cinco meses após o início da intervenção federal no Rio de Janeiro pelo Observatório da Intervenção da Universidade Cândido Mendes.

Segundo o estudo, as chacinas aumentaram 80% e as mortes em chacinas aumentaram 128%. Apesar do aumento das mortes, a apreensão de fuzis, metralhadoras e submetralhadoras diminuiu: 39% a menos entre fevereiro e maio de 2018, comparado ao ano anterior.

Nos cinco meses pré intervenção, foram 2.924 tiroteios contra 4.005 tiroteios a partir de 16 de fevereiro. O estudo utilizou dados do aplicativo Fogo Cruzado que registra disparos e tiroteios ocorridos no estado.

Segundo os dados, foram 280 operações monitoradas que contaram com a participação de 105 mil agentes e deixaram 69 mortos. ;As mesmas práticas violentas da polícia continuam a dominar as operações em favelas, marcadas por denúncias de violações e o terror causado por atiradores, inclusive em helicópteros. Apesar de anúncios diários de operações com milhares de militares e policiais, os resultados são pífios;, diz um trecho do estudo.

A cientista social Sílvia Ramos, coordenadora do Observatório da Intervenção e do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, afirma que o cenário é preocupante porque o número de operações e os decorrentes tiroteios aumentaram o número de mortes e consequentemente, o medo dos moradores. Segundo ela, apenas com a adoção de estratégias consistentes de investigação baseadas em inteligência será possível melhorar a segurança pública no Rio.

;O resultado é de megaoperações, mas sem efeitos práticos como a redução de armas e mortes. Em todas as pesquisas, vemos que o que o morador tem mais medo é de morrer por conta de tiroteio e bala perdida. Estão investindo muito recurso em efetivos e pouco efetivo em inteligência;.

Ela observa que o ideal é que as armas sejam apreendidas antes de chegarem às favelas.

;Depois disso, se tiver que usar 500 policiais contra 50 criminosos para apreender 3 ou 4 fuzis será que vale a pena? O resultado é inexpressivo. Esperamos que a intervenção trouxesse a integração que mudasse esse cenário. O que vemos é que piorou. São operações agressivas, a intervenção deveria determinar que o centro das operações é a proteção da vida;, ressalta.

Para o especialista em segurança pública Arthur Trindade, há menos transparência quando se fala da investigação de mortes ocorridas durante as operações, como o caso do adolescente Marcus Vinícius da Silva, 14 anos, baleado na barriga quando ia para a escola, no Complexo da Maré, na zona norte do Rio, no último dia 20.

;O resultado da intervenção não parece ter mudado o rumo das coisas. Ao contrário, as pendências continuam e aumentou o número de homicídios, confrontos e tiroteios. Por outro lado, o interventor não tem dado satisfação sobre situações que ocorreram nas operações para a sociedade. Tem que dizer o que aconteceu. Se teve erro, quais as providências. Precisa falar sobre isso;, observa.

O Correio entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro e também com o Gabinete de Intervenção Federal do Rio. Ambos afirmaram não comentar dados não-oficiais.

O Observatório da Intervenção foi criado para identificar e divulgar dados de diferentes fontes sobre a presença das Forças Armadas no Rio durante a intervenção federal. Com sociólogos e especialistas em segurança pública, o observatório monitora diariamente jornais impressos e online, tem parceria com as organizações Defezap, Fogo Cruzado e OTT-RJ, que repassam informações confirmadas relacionadas à intervenção. O acompanhamento dos fatos é registrado em um bancos de dados desenvolvidos pelo CESeC e divulgado mensalmente.

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