Otávio Augusto
postado em 27/07/2018 06:00
Os indícios de que a seca está implacável é denunciada pela terra rachada. A falta d;água nos reservatórios e a previsão de poucas chuvas agravam o problema. O último mês foi ainda mais crítico. Monitoramento da Agência Nacional de Águas (ANA) mostra que a seca moderada, nível intermediário do problema, aumentou 246% entre maio e junho. São mais de 328 mil pessoas vivendo em áreas extremas e severas, onde as intempéries do tempo são ainda mais duras. Na próxima semana, reunião definirá decisões estratégicas, com referência à gestão de reservatórios de água para o abastecimento e para geração de energia.Sem o avanço de frentes frias, a tendência ainda é de chuvas raras e concentradas nas áreas litorâneas. Os reservatórios estão em baixa. Dos 521 aquíferos do Nordeste, quase a metade (214) está abaixo de 30% da capacidade, segundo a ANA. O temor de especialistas é de que estiagem semelhante à que castigou o semiárido brasileiro entre 2012 e 2017, considerada a pior da história pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), volte a afetar os nordestinos.
[SAIBAMAIS]O Maranhão e o Piauí são os que mais tiveram áreas afetadas pela seca. Na região central do Maranhão, por exemplo, a estiagem varia entre nove a 15 meses. No Ceará, mais 26 municípios tiveram situação de emergência decretada pelo Ministério da Integração Nacional. Agora são 66 cidades nesta situação. Em todo o país, o número de cidades em estado de emergência ultrapassa 800. Nos próximos seis meses, as prefeituras podem pedir apoio ao governo federal para ações emergenciais. Em alguns locais, além do abastecimento de água potável por caminhão-pipa, houve distribuição de comida e famílias foram retiradas de áreas de risco.
O secretário dos Recursos Hídricos do Ceará, Francisco José Coelho Teixeira, lamenta os impactos da seca na área rural e na urbana. ;Temos água na torneira, mas tememos o colapso do abastecimento urbano. Fazemos o controle da oferta e da demanda. É mais do que um racionamento, é conscientização. Quem usa mais água acima da meta paga multa. Do ponto de vista da agricultura, é preciso buscar outras formas para produzir com menos água;, pondera.
O meteorologista Manoel Rangel, do Inmet, explica a tendência climática para a região. ;Está chovendo menos do que era esperado. Do Maranhão até a Bahia, todo dia têm pancadas, mas são fracas. As precipitações estão e vão permanecer abaixo da média. Uma massa de ar seco que está predominando em 85% do país impede a formação de nuvens;, detalha. A situação pode degringolar ainda mais. ;Ainda não está definido, mas existe a possibilidade.;
Os problemas
A seca severa tem causado impacto na safra agrícola, na pecuária e nos reservatórios de abastecimento de água e de geração de energia. O problema, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ocorre, principalmente, em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Acre. No Nordeste, 28% da região (cerca de 350 mil km;) está impactada pela seca.
;No Centro-Oeste, o deficit de chuva nos últimos meses contribuiu para a ocorrência de quebra de safra. Em outros estados, também foram observados impactos nos recursos hídricos e/ou no setor agropecuário, devido à ocorrência de eventos de seca nos últimos meses, como os ocorridos nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Acre e no sul de Minas Gerais;, explica relatório do órgão.
Na próxima segunda-feira, técnicos do Cemaden e do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) discutem o panorama do clima. Os órgãos devem traçar o cenário para os meses de agosto, setembro e outubro. Avaliarão ainda os possíveis impactos decorrentes das previsões. ;O principal objetivo é contribuir com os setores produtivos e agropecuários, além da possibilidade de tomada de decisões estratégicas, com referência à gestão de reservatórios de água para o abastecimento e para geração de energia;, destaca o Cemaden, em nota.
"Temos água na torneira, mas tememos o colapso do abastecimento urbano. Fazemos o controle da oferta e da demanda. É mais que um racionamento, é conscientização;
Francisco José Coelho Teixeira, secretário dos Recursos Hídricos do Ceará