Brasil

Em Pacaraima, ministro Raul Jungmann nega fechamento de fronteiras

Jungmann visitou instalações do centro de triagem para solicitantes de refúgio e residência temporária

Ingrid Soares
postado em 23/08/2018 23:04
Ministro Raul Jungmann
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, esteve, nesta quinta-feira (23/8), em Pacaraima para verificar a situação dos serviços emergenciais prestados aos venezuelanos imigrantes que chegam ao Brasil fugindo da crise econômica. Jungmann visitou instalações do centro de triagem para solicitantes de refúgio e residência temporária e negou definitivamente o fechamento da fronteira.

;Nós não vamos fechar a fronteira de forma nenhuma. A Venezuela é destino, é nosso vizinho. Imagine quando tudo isso passar, sermos recebido na Venezuela como um país que foi um irmão e esteve o seu lado na hora da dor, na hora da dificuldade. Restrições também não estão sendo discutidas ou pensadas pelo governo federal, queremos ampliar e trazer efetivamente mais condições para que essa situação que é difícil, que gera tensão, incomoda e traz desconforto, melhore. É muito pior tentar fechar a fronteira. Uma criança com fome é uma criança com fome, seja ela brasileira ou venezuelana, não dá para fechar a porta para essa situação;, defendeu.

Segundo o ministro, é necessário melhorar os serviços de interiorização, que não funcionam na velocidade em que deveriam. "A interiorização é complexa, não pode simplesmente soltar as pessoas lá em São Paulo, em Pernambuco, em Goiás. Tem que ter acolhida, sistema de transporte, onde localizar, contar com a colaboração dos estados. Vamos acelerar, reconhecemos que está lento, mas vamos melhorar;.

Na última quarta-feira (22/8), a governadora do estado, Suely Campos (PP), protocolou, no Palácio do Planalto, um ofício com dez cobranças em que reiterou medidas anteriormente solicitadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) para gerenciamento da crise migratória dos venezuelanos em Roraima. Entre os pedidos, o ressarcimento de R$ 184 milhões para cobrir gastos com os imigrantes, além da instalação de um hospital de campanha em Boa Vista.

Jungmann reafirmou ainda o posicionamento do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Presidência da República, Sérgio Etchegoyen, de que o governo não repassará as verbas exigidas pelo governo de Roraima. Ele afirma que o estado tem R$ 70 milhões em verbas não utilizadas.

Um dos pedidos já atendido pelo governo foi a atuação da Força Nacional de Segurança, com 120 homens para o patrulhamento de Boa Vista. Na segunda-feira (20/8), 60 integrantes da Força Nacional desembarcaram para apoiar o trabalho da Polícia Federal na faixa de fronteira com a Venezuela. Os outros 60 foram enviados na terça-feira (21) em Boa Vista (RR). Eles saíram de Brasília (DF), com 16 viaturas e um ônibus. A previsão, segundo o Ministério da Segurança Pública é de que cheguem até o final desta semana. Há também o contingente de 220 integrantes das Forças Armadas que já estão na região e passarão a fazer patrulhamento ostensivo na fronteira em apoio à Polícia Federal (PF), que receberá R$ 2 milhões para reforçar a atuação na fronteira. Outras 40 estações de trabalho serão adicionadas nos postos de triagem para agilizar o processo de registro e documentação dos imigrantes.

Sobre a segurança pública no estado e a preocupação com o aumento da criminalidade local, Jungmann ressaltou que a capacidade operacional das Forças Armadas está à disposição para assumir as forças locais, caso a governadora requisite.

;Se a governadora não tem condições de manter a lei e a ordem com as forças do estado, o presidente da República está pronto, mediante um único telefonema, seguido de ofício, para requisitar o emprego das Forças Armadas. Garanto que em 36 ou em 48 horas estarão assegurando a paz, a ordem e a tranquilidade, assumindo as forças locais. Isso só depende da solicitação da governadora. O presidente Temer já colocou à disposição toda a capacidade operacional das Forças Armadas para responder e dar tranquilidade e sossego para o povo de Roraima;, assinalou.

O ministro vê com preocupação disputas eleitorais no estado que possivelmente estariam se aproveitando da situação dos venezuelanos na tentativa de reeleição e afirmou que a crise dos imigrantes é uma situação momentânea.

;Não dá para fazer política em cima de uma tragédia como essa, não estou acusando ninguém, mas há limites morais e éticos. Diante de uma situação assim há duas atitudes: uma é reconhecer que existem falhas e procurar soluções, a outra é procurar tirar dividendos. Diante de uma tragédia humanitária de crianças em dificuldade e famílias desalojadas não podemos pensar, de forma nenhuma, em tirar nenhum tipo de dividendo. É uma questão humanitária. A Venezuela vai voltar ao que era, isso vai passar. Se somarmos esforços ao invés de procurarmos tirar vantagens para lá ou para cá, mais rapidamente voltaremos à normalidade;, destacou.

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/DF, Djalma Nogueira dos Santos Filho, a situação dos venezuelanos tem se complicado ainda mais por questões e interesses eleitorais. ;Infelizmente isso está ligado à política eleitoral e os venezuelanos ficam no meio como moeda de troca. É lastimável. Em comparação com outros países, o Brasil recebeu um número ínfimo de imigrantes. Tem que receber e criar políticas para que essas pessoas tenham dignidade humana. Já deveriam ter políticas mais eficazes e isso mostra como a política institucional brasileira é pequena e atrasada;, critica.

Eleições em Roraima

O governo de Roraima pediu o fechamento da fronteira, mas a solicitação foi negada pela ministra Rosa Weber. O líder do MDB no Senado, Romero Jucá também pediu a suspensão da entrada de venezuelanos pela fronteira do país e propôs que eles entrassem por outros estados.

Na corrida a governador do estado de Roraima, Jucá apoia o candidato tucano José de Anchieta Junior que, segundo a pesquisa Ibope, lidera as intenções de voto, com 36%.

Em seguida, aparece Antônio Denarium (PSL), com 20%. A governadora do estado de Roraima Suely Campos (PP) também concorre à reeleição. No entanto, segundo a mesma pesquisa, divulgada no dia 17 de agosto a situação dela não é confortável, pois segue em terceiro lugar com 14% das intenções. Ela possui taxa de rejeição de 62%, a maior entre os concorrentes na corrida para o governo do estado. Os demais candidatos Telmário Mota (PDT) e Fábio de Almeida (PSOL) possuem 7% e 3%, respectivamente. Brancos e nulos somam 11%, enquanto 9% declararam não saber em quem votar. Jucá também tenta se reeleger para o senado de Roraima, mas aparece em terceiro lugar nas pesquisas com 25% das intenções de voto, enquanto Angela Portela (PDT), segue na liderança com 30% e Mecias de Jesus (PRB), em segundo, com 26%.

Segundo o especialista em segurança pública e cientista político da Universidade de Brasília (Unb), Antônio Testa, a estratégia adotada para tentar conter a insatisfação popular é o posicionamento restritivo frente aos imigrantes venezuelanos. ;Eles pediram o fechamento da fronteira pois os eleitores são contra a presença dos imigrantes no estado por conta dos transtornos, da violência, da sujeira nas ruas, das doenças. O que está em jogo não são os interesses dos venezuelanos, mas os interesses políticos;, observa.

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