Brasil

Exército atribui insucessos da intervenção no Rio à falta de empenho

Em duras críticas, o general Eduardo Villas Bôas declara que não consegue vislumbrar um projeto para o futuro do país, nem identificar qual o 'papel' a exercer no 'concerto das nações'

Rodolfo Costa
postado em 24/08/2018 10:59
A intervenção no Rio de Janeiro foi instituída em fevereiro deste ano pelo presidente Michel Temer
O insucesso da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro se deve à falta de empenho dos governos, com base em medidas socioeconômicas. É o que atribui o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em Ordem do Dia lida nesta sexta-feira (24/8), em cerimônia de celebração do Dia do Soldado.

Em duras críticas, o general declara que não consegue vislumbrar um projeto para o futuro do país, nem identificar qual o ;papel; a exercer no ;concerto das nações;. O Villas Bôas recorda que, nos últimos anos, tornou-se frequente o emprego das Forças Armadas em missões ;variadas;, como as de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

O comandante do Exército ressalta que as Forças Armadas atuaram no Rio Grande do Norte, no Espírito Santo e, em especial, no Rio de Janeiro. ;Onde a população alarmada deposita esperanças em uma intervençaõ que muitos, erroneamente, pensam militar;, declarou.

A intervenção no Rio de Janeiro foi instituída em fevereiro deste ano. Passados seis meses, ele avalia que o Exército é o único engajado na missão, em clara crítica à atuação do Estado. ;Apesar do trabalho intenso de seus responsáveis, da aprovação do povo e de estatísticas que demonstram a diminuição dos níveis de criminalidade, o componente militar é, aparentemente, o único a engajar-se na missão;, destacou.

O comandante critica a exigência de soluções a curto prazo. ;Contudo, nenhum outro setor dos governos locais empenhou-se, com base em medidas socioeconômicas, para modificar os baixos índices de desenvolvimento humano, o que mantém o ambiente propício à proliferação da violência;, frisou. O general reconhece, ainda, que as ;leis vigentes; devem ser modificadas em um país que perde ;mais de 63 mil vidas por ano.;

As críticas do general também se estendem à atuação militar nas áreas fronteiriças, como entre Roraima e Venezuela. O governo federal, as Forças Armadas e o governo estadual atuam na região para acolher a entrada de imigrantes venezuelanos. Villas Bôas destaca que faltam recursos para uma ;eficaz e rápida atuação; dos militares. ;Há soldados em Pacaraima, porta de entrada da Venezuela para o Brasil, tentando minimizar uma tragédia humanitária, que está sendo acompanhada com preocupação pela comunidade internacional;, enfatizou.

Disciplina

Também sobraram críticas de Villas Bôas à perda de respeito às ;tradições e aos valores; e ao ;ideologismo;. ;Perdemos a disciplina social, a noção de autoridade e o respeito às tradições e valores, o que nos tornou uma sociedade ideologizada, intolerante e fragmentada. Estamos nos infelicitando, diminuindo nossa autoestima e alterando nossa identidade;, avaliou.

O Exército calcula que participam do evento 1,7 mil militares. Além deles, o presidente Michel Temer prestigia a cerimônia. Oficialmente, a data é comemorada em 25 de agosto, neste sábado, em homenagem ao nascimento de Duque De Caxias, soldado símbolo da pátria. A cerimônia do Dia do Soldado inclui, ainda, a entrega da Medalha Exército Brasileiro e da Medalha do Pacificador a personalidades e autoridades civis, militares e organizações militares.

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