Brasil

A história de venezuelanos que vieram reconstruir a vida no Brasil

Número de venezuelanos que deixam o país é maior que o de refugiados sírios na Europa. Muitos deles tentam refazer a vida no Brasil, mesmo em ocupações que estão muito abaixo da capacidade profissional

Marília Sena*
postado em 28/08/2018 06:00
O médico German Freitas mora com parte da família em Luziânia, onde é auxiliar de serviços geraisO número de venezuelanos que solicitaram asilo no Brasil e outros países, em 2018, é 5,5 vezes maior do que o de sírios em busca de refúgio na Europa. Dados divulgados pelo Alto Comissariado nas Nações Unidas para refugiados mostram que, neste ano, 137 mil pessoas que deixaram a Venezuela solicitaram oficialmente asilo em países como Brasil, Estados Unidos, Peru ou Espanha. No mesmo período, 24,7 mil sírios pediram asilo na Europa.

O Brasil é o terceiro país mais procurado pelos venezuelanos: 32,7 mil deles solicitaram status de refugiados no país, 11% do total. O Distrito Federal e o entorno abrigam uma parte desses refugiados, como o cirurgião plástico German Freitas, 47 anos. Com 29 anos de carreira militar e 19 anos de trabalho como médico na Venezuela, ele deixou o posto de capitão do exército venezuelano por ;questões políticas e financeiras;, e hoje trabalha como auxiliar de serviços gerais na empresa Santa Chiara, em Luziânia (GO)

O médico, que está no Brasil há um ano e três meses, mora com três filhos, a sogra e a esposa grávida no Jardim Ingá, a cerca de 43 quilômetros de Brasília. Mesmo com uma ocupação muito abaixo da capacidade profissional, ele se diz satisfeito com o emprego. Afirma que foi muito bem recebido em Luziânia, mas não teve uma experiência positiva na fronteira do Brasil com a Venezuela.

Freitas conta que sofreu um atentado com colegas durante a caminhada entre Pacaraima e Boa Vista, em Roraima. ;Um carro passou por nós lentamente e depois voltou, um dos passageiros atirava e gritava ;peguei um!’, ;tem que matar todos!’;. Para escapar, os venezuelanos mergulharam em um rio. Essa não foi a única experiência ruim. Ele diz que passou sede, fome e sofreu humilhações de brasileiros durante os quarenta dias que permaneceu na rodoviária de Boa Vista.

Freitas conseguiu o emprego atual por meio da Fraternidade sem Fronteiras, uma organização não governamental (ONG). Devido a questões políticas, a mãe do médico e uma filha vivem escondidas no país natal. ;Tenho muita vontade de trazê-las para cá, mas ainda falta dinheiro;, disse. Um filho de 32 anos foi assassinado este mês na Venezuela pelo exército, segundo Freitas, que não pôde ir ao funeral. ;Se eu entrar na Venezuela, sou preso ou morto;, lamentou.

Alba Garcia, de 26 anos, é uma das filhas de German e está no Brasil desde maio. Formada em gestão pública, ela trabalhava em dois empregos como secretária, pelos quais recebia 3 mil bolívares, o que dava para comprar o básico, como o arroz, que custava 2,5 mil bolívares. Alba deixou o namorado e o irmão para tentar nova vida no Brasil. ;Sinto saudade, mas, se ficasse lá, ia morrer de fome. Ligo todos os dias para o meu irmão, que foi para o Peru, mas perdi o contato com o meu namorado;, disse. Alba trabalha no setor administrativo da mesma fábrica que o pai. Ela afirma que se sente bem no Brasil, mas ainda não tem amigos.

Mayttec Guanipa, de 52 anos, é sogra de German. Diz que ;o coração dói; pelo filho que é engenheiro de petróleo, ficou na Venezuela e trabalha como motorista. Mayttec pretende continuar no Brasil. Ela trabalha na mesma fábrica, na parte da limpeza. ;O Brasil tem sido bastante acolhedor;, disse.

Pedro Onofre é dono da fábrica em Luziânia em que os venezuelanos trabalham. Ele é voluntário da Fraternidade sem Fronteiras há dois anos. É a primeira vez que acolhe pessoas em situação de risco. Onofre foi informado sobre a situação dos venezuelanos em Boa Vista e decidiu ajudar. Ele diz que a experiência está sendo muito boa e espera que outros brasileiros ajudem os amigos do país vizinho.

Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

Jucá deixa liderança


O presidente nacional do MDB, senador Romero Jucá (RR), candidato à reeleição, anunciou ontem a decisão de deixar a liderança do governo no Senado, posto que ocupava desde março de 2017, a 40 dias das eleições. O motivo, segundo ele, é sua discordância pela ;forma como o governo federal está tratando a questão dos venezuelanos em Roraima;. Jucá tem defendido que o governo bloqueie as fronteiras temporariamente para impedir o acesso de cidadãos do país vizinho, que enfrenta uma crise humanitária. Segundo o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun, o presidente Michel Temer definirá um novo nome hoje. ;O presidente tem algumas ideias de convite e até amanhã terá selecionado um novo líder;, disse Marun.

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