Brasil

Venezuelanos vão receber senhas na fronteira para facilitar o atendimento

Governo federal desiste de limitar a entrada de venezuelanos no país e diz que objetivo é aprimorar o atendimento humanitário em Roraima, e, 'em hipótese alguma', fechar fronteira

Ingrid Soares
postado em 30/08/2018 06:00
A entrada em massa de imigrantes estaria causando dificuldades de organização, segundo Temer

Em meio à crise migratória em Roraima, o governo federal chegou a cogitar a possibilidade de distribuir senhas para controlar a entrada de venezuelanos no país, limitando o fluxo diário. O presidente Michel Temer afirmou, durante entrevista a uma rádio, que o tema foi debatido em reuniões internas. Após a fala do emedebista, porém, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou uma nota explicando que as senhas visam ;aprimorar um processo de atendimento humanitário em Roraima, o que não pode ser confundido, em hipótese alguma, com fechamento à entrada de venezuelanos no Brasil;.

De acordo com a assessoria, ;uma vez que o presidente determinou que se intensificasse a interiorização, impõe-se melhorar os mecanismos de controle, torná-los ainda mais eficientes no atendimento aos refugiados e, ao mesmo tempo, preservar as estruturas de atenção às famílias brasileiras;.

Na entrevista, Temer afirmou que entram no país de 600 a 700 venezuelanos por dia, o que estaria causando dificuldades até para vacinação. ;Eles pensam em colocar senhas de maneira que entrem 100, 150, 200 por dia, e cada dia entre um determinado número para organizar um pouco mais essas entradas;, frisou.

Temer explicou ainda que, há cerca de um ano e meio, o país ofereceu ajuda humanitária à Venezuela, mas a oferta foi recusada pelo governo de Nicolás Maduro. ;O governo recusa lá, e os venezuelanos vêm para cá. Claro que a nossa política é de acolher aqueles que entram no país, não só nossa política, mas os tratados internacionais;, afirmou. ;Mas o ideal para nós é que eles recebessem lá a nossa ajuda humanitária e que lá eles pudessem permanecer.;

Na terça-feira, o presidente assinou um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e autorizou o uso das Forças Armadas no estado, com poder de polícia, no reforço às faixas de fronteira Norte e Leste com a Venezuela, numa área de 150km. O texto tem validade até 12 de setembro, e ficará a cargo do governo analisar a necessidade de extensão do prazo.

O economista e professor de ciências políticas da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Elói Martins Senhoras criticou as respostas do Planalto à crise. ;É um instrumento válido (GLO) para a situação de deterioração do estado, mas que deveria ter ocorrido antes, de modo imediato, após os acontecimentos sociais que surgiram nos últimos 10 dias. Essas decisões estão sendo utilizadas como único instrumento para conter e abarcar a imigração venezuelana;, afirmou. ;O governo federal apresenta forte silêncio administrativo e ausência de políticas públicas. É o governo federal que detém o monopólio sobre a fronteira e estados fronteiriços. Na ausência federal, acaba que o estado sofre pressão e apresenta incapacidade operacional. É uma política simbólica realocar mil imigrantes enquanto a realidade é da chegada de mil venezuelanos por dia.;

Na opinião do economista, a opção pela GLO ;faz parte de uma agenda teatral;. ;Não vai se resolver com policiamento, é necessária uma política pública combinada com acolhimento e interiorização com volume significativo de imigrantes. Os venezuelanos estão se tornando um bode expiatório para problema que já existiam;, avaliou. ;O estado já estava com grave problema de segurança pública e saúde, que se agravou com os venezuelanos.;

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