Jornal Correio Braziliense

Brasil

Museus deixados de lado nos planos de governo dos presidenciáveis

Apenas dois partidos (Rede e PT) citaram a importância de se criar mecanismos para proteger as instituições nos próximos quatro anos


O incêndio que exterminou 200 anos de história e evidenciou o descaso do poder público com as questões culturais do país virou munição para campanhas eleitorais, após a tragédia no Museu Nacional do Rio de Janeiro, no último domingo (2/9), que rendeu comentários dos principais candidatos à Presidência da República. Eles falaram publicamente sobre o assunto, exaltando a importância da comunidade científica e apoiando o investimento nas artes. Mas alguns sequer incluíram a Cultura em seus planos de governo.
Antes que o fogo apagasse uma parte do nosso passado, o cuidado com os museus brasileiros não tinha notoriedade. Apenas dois partidos (Rede e PT) citaram a importância de se criar mecanismos para proteger as instituições nos próximos quatro anos. Sete candidatos inseriram propostas para fomento da cultura, mas não citaram essa especificidade. Os outros quatro não fizeram qualquer menção sobre temas relacionados em seus planos de governo. Jair Bolsonaro (PSL), Henrique Meirelles (MDB), Cabo Daciolo (Patriota) e Vera Lucia (PSTU), por exemplo, ignoraram completamente essas questões. Ainda assim, alguns foram às redes sociais e trataram a Cultura como prioridade.

Meirelles salientou no Twitter que "além do acervo de valor inestimável, o prédio incendiado foi palco de momentos decisivos para o a história do país". Lembrou que o espaço abrigou a primeira Assembleia Constituinte republicana e fez prospecções sobre o tema. "A história e a cultura são essenciais para compreender o presente e criar um futuro de progresso". Bolsonaro publicou no Instagram uma foto do museu em chamas com a palavra "luto". Ainda não se sabe exatamente o que causou o incêndio e as investigações são mantidas em sigilo.

Mas o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, disse à imprensa que a tragédia é resultado de negligência. Ele lamentou a perda de milhões de objetos raros.

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Orçamento

Embora o Museu Nacional desempenhasse papel importante, tinha um orçamento baixíssimo. Segundo o especialista em contas públicas e secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castelo Branco, as despesas da instituição, atualmente ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram de R$ 643 mil em 2017. "O valor é quase o mesmo de um único contrato feito pela Câmara dos Deputados para lavar os 83 carros que ficam com os parlamentares." Estima-se que aproximadamente R$ 20 milhões seriam necessários para que uma reforma de grandes proporções fosse feita no espaço antes do incêndio.

Nas redes sociais, o presidente da Câmara e candidato a mais um mandato de deputado pelo Rio de Janeiro, Rodrigo Maia (DEM), comprometeu-se a tentar levantar a quantia. "Vou batalhar para trazer recursos do orçamento federal e procurar grandes empresas para a reconstrução imediata deste museu, um patrimônio histórico para todos os brasileiros".

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CULTURA EM ALTA?
Veja quem foram os candidatos que detalharam proposições envolvendo a Cultura em seus planos de governo registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antes da tragédia no Museu Nacional

Candidatos que trouxeram proposta específica para a manutenção dos museus: Marina Silva (Rede) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Candidatos que trouxeram propostas sobre a cultura no país: Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Eymael (DC), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSol), João Amoêdo (Novo) e João Goulart Filho (PPL)

Candidatos que ignoraram o tema: Cabo Daciolo (Patriota), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Vera Lucia (PSTU)