Brasil

Lista dos animais ameaçados de extinção aumenta 87% em uma década

Em uma década, cresceu em 87% a lista de animais ameaçados de extinção no país. Mesmo assim, o problema segue negligenciado e nenhum dos planos de governo dos 13 presidenciáveis aborda especificamente o assunto

Otávio Augusto
postado em 04/10/2018 06:00
A onça-pintada é uma das espécies afetadas na redução de mamíferos da Mata Atlântica: exploração sem limites

O desaparecimento de animais afeta ecossistemas e interfere na vida humana, com desequilíbrios climáticos e escassez de água, por exemplo. O problema no Brasil tem aumentado, mas parece esquecido. Em uma década, cresceu 87% a lista de bichos ameaçados de extinção. Em 2008, o Ministério do Meio Ambiente lançou um catálogo com 627 animais em risco. Hoje, o número chegou a 1.173.

Esse é somente um dos exemplos do descaso com a fauna. A preocupação de especialistas é com a falta de políticas públicas de prevenção. Nenhum dos planos de governo dos 13 presidenciáveis registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aborda especificamente a questão. Nove trazem proposições genéricas, que não resolvem as questões existentes, segundo especialistas.

Os últimos mapeamentos mostram que a Mata Atlântica está em colapso. Há 15 dias, houve mais um ataque ao meio ambiente: deputados da Assembleia Legislativa de Rondônia votaram, por unanimidade, pela extinção de uma reserva florestal que equivale a mais de meio milhão de hectares de áreas protegidas na Amazônia.

Elaborada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Declaração Universal do Direito dos Animais completou 40 anos em janeiro. Contudo, ambientalistas criticam a ausência de políticas públicas que implementem a cartilha.

Para o professor Reuber Albuquerque Brandão, do Departamento de Engenharia Florestal da UnB, existe um recrudescimento do assunto. ;A maior parcela dos candidatos encara o meio ambiente como atraso para a economia, para a indústria, para a geração de empregos. Infelizmente, temos falta de ações de várias áreas, um grande conflito na questão fundiária e na falta de planejamento para áreas de conservação de biodiversidade;, critica.

O diretor do Departamento de Conservação e Manejo de Espécies do Ministério do Meio Ambiente, Ugo Vercillo, destaca que 25% das espécies ameaçadas de extinção não são cobertas por nenhuma medida de preservação. ;Ampliamos as ações de conservação, como áreas de proteção e elaboração de planos nacionais de preservação de espécies consideradas ameaçadas de extinção. Estamos firmando um acordo que trará US$ 60 milhões para que 100% das espécies estejam protegidas. O lançamento deve ocorrer até o fim do ano;, promete.

Vercillo é um dos que criticam a falta de substância nos planos. ;Infelizmente, temos um processo político em que as pessoas não pensam nos problemas que existem. São planos eleitoreiros.;

Os números divulgados pelo ministério fazem parte de um levantamento de 2014 ; o mais atualizado. O grupo sob maior ameaça é o de peixes continentais (leia quadro).

É possível, contudo, que esses números sejam maiores. Pesquisa divulgada na última edição da revista Plos One, publicação científica especializada, destaca que um ;colapso; afeta a Mata Atlântica. Pressionada pela excessiva exploração humana, a população de mamíferos da floresta tropical foi reduzida pela metade desde o início da colonização, há cinco séculos. As principais vítimas são animais de médio e grande portes, como onças-pintadas e antas.

Os pesquisadores compararam inventários sobre a Mata Atlântica publicados nas últimas três décadas e dados sobre a biodiversidade da área na época do Brasil Colonial. A conclusão é de que a agricultura, a extração de madeira e os incêndios mitigaram drasticamente o tamanho do bioma.

As populações de mamíferos foram duramente penalizadas. Houve perdas de indivíduos em cerca de 500 espécies. ;Esses hábitats estão severamente incompletos, restritos a remanescentes florestais insuficientemente grandes e presos num vórtice de extinção em aberto. Esse colapso é sem precedentes tanto na história quanto na pré-história e pode ser diretamente atribuído à atividade humana;, diz Juliano Bogoni, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), que liderou o estudo.

O engenheiro florestal Cesar Victor do Espírito Santo, superintendente executivo da Fundação Pró-Natureza (Funatura), pondera que a ausência de propostas nos planos de governo é um reflexo da prioridade que a sociedade dá ao tema. ;É lamentável a forma marginal que os planos de governo tratam a questão, mas a situação ambiental sempre esteve num plano secundário. Temos desafios grandes para a questão ambiental no Brasil. Historicamente, temos esforços aquém do necessário. Sempre investimos o mínimo necessário;, critica.


Projeto contra a natureza


Os 18 deputados da Assembleia Legislativa de Rondônia votaram, por unanimidade, pela extinção da reserva florestal Cujubim. Em 2017, Rondônia foi o terceiro estado da região amazônica que mais desmatou: 1.252km2, contribuindo com 19% dos desmatamentos na Amazônia Legal, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O projeto da extinção ainda precisa ser sancionado pelo governador Daniel Pereira (PSB). O secretário estadual de Desenvolvimento Ambiental, Hamilton Santiago, adiantou ao Correio que o texto será vetado.


Em risco: veja espécies ameaçadas


310 Peixes continentais
233 Aves
233 Invertebrados terrestres
110 Mamíferos
98 Peixes marinhos
80 Répteis
66 Invertebrados aquáticos
41 Anfíbios
Fonte: Ministério do Meio Ambiente


O que eles propõem

Ciro Gomes (PDT)

; Implantação das unidades de conservação já criadas no Brasil com as devidas indenizações e/ou reassentamentos e taxação à produção ilegal que reduz a sustentabilidade e piora as condições ambientais.

Eymael (Democracia Cristã)

; Proteger o meio ambiente e assegurar a todos o direito de usufruir a natureza sem agredi-la.

Geraldo Alckmin (PSDB)

; Perseguir o cumprimento das metas assumidas no Acordo de Paris.

Guilherme Boulos (PSol)

; Estabelecer princípios de atuação para empresas brasileiras no exterior, coibindo uma perspectiva puramente utilitária, predatória do meio ambiente e violadora de direitos.


Henrique Meirelles (MDB)

; Criar unidades de conservação nos arquipélagos de São Paulo e São Pedro (PE) e Trindade e Martim Vaz (ES). Programas de redução do desmatamento na Amazônia, de recuperação de nascentes e de revitalização do rio São Francisco.

João Amoêdo (Novo)

; Aumentar a coleta e o tratamento de esgoto.


João Goulart Filho (PPL)

; Rever o Código Florestal de forma que aumente a proteção do meio ambiente e garanta a produção agropecuária.


Marina Silva (Rede)

; Implementar políticas de bem-estar dos animais: os de produção, para consumo humano, de estimação, de trabalho, selvagens ou de laboratório.

Fernando Haddad (PT)

; Investir na gestão sustentável dos recursos hídricos, protegendo aquíferos e lençóis freáticos da contaminação e superexploração, recuperando nascentes, despoluindo rios e ampliando saneamento.


Não apresentam propostas:

Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Jair Bolsonaro (PSL) e Vera Lúcia (PSTU).

Fonte: planos de governo registrados pelas candidaturas no TSE

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