Brasil

Governo encontra 1.256 trabalhadores em condições de 'escravidão' em 2018

Quantidade de casos é 93% maior do que a registrada em todo o ano passado

Andressa Paulino*
postado em 18/10/2018 20:27
Foram computados cerca de 645 casos em 2017
O ano ainda não acabou e já superou 2017 inteiro na quantidade de trabalhadores encontrados em situações análogas à de escravos, tanto no campo quanto na cidade. De acordo com o Ministério do Trabalho, os auditores-fiscais encontraram 1.256 pessoas nesta situação entre janeiro e a primeira quinzena de outubro. Segundo o governo, o número é 93% maior do que o registrado em todo o ano passado, que computou 645 casos.

[SAIBAMAIS] Os dados são do Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil e mostram que até o momento, foram 377 ocorrências de trabalho escravo rural, enquanto na área urbana o número é de 869. De acordo com o painel, Minas Gerais é o estado em que foi encontrado o maior número de trabalhadores em situação análoga à de escravidão (754), seguido pelo Pará (129) e Mato Grosso (128). A maioria em empresas de criação de bovinos, cultivo de café e produção florestal (plantio de florestas).

De acordo com o chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho, Maurício Krepsky, os dados refletem o aumento de ações de campo. "Nós investimos bastante em inteligência da informação, e conseguimos identificar locais que antes não poderíamos chegar", explicou. Segundo a pasta, durante as operações realizadas em 159 estabelecimentos, foram formalizados 651 trabalhadores, emitidas 601 guias de seguro-desemprego e pagos R$ 1,7 milhão em verbas rescisórias aos resgatados.

Outra atribuição dada ao número significativo de pessoas encontradas em trabalho escravo foi a ação fiscal feita em Minas Gerais, que identificou mais de 500 trabalhadores vivendo em condições de exploração. Nomeada como Nova Canaã, a operação não chegou a resgatar colaboradores, porque os mesmos não quiseram ser retirados do local.

Já o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Guilherme Feliciano, aponta que fatores econômicos e sociais levaram ao crescimento de postos de trabalho precários. "A crise econômica provocou um desemprego profundo, e o país chegou a ter 14 milhões de desempregados. Isso levou uma grande parcela da população a se sujeitar a cargos em situações desumanas, com jornadas de trabalho extensas e exaustivas", explicou.

Outro fator que desencadeou o aumento de casos de regime escravo foi a reforma trabalhista. Para Feliciano, as diretrizes do texto definiram uma releitura do direito trabalhista, estimulando alternativas precárias de contratação. "É uma forma de escravidão contemporânea", apontou o presidente da Anamatra. Ele também ressaltou que há um deficit no quadro de auditores fiscais do Ministério do Trabalho, o que acaba inibindo ações fiscalizadoras.

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