Brasil

Governador eleito de Roraima quer mais controle na fronteira com Venezuela

Antônio Denarium (PSL) propõe exigir antecedentes criminais antes de receber refugiados. Especialistas criticam medida

Otávio Augusto
postado em 30/10/2018 06:00
Abrigo para imigrantes em Boa Vista: dos 85 mil venezuelanos que chegaram ao país, 54 mil pediram refúgio
O governador eleito de Roraima, Antônio Denarium (PSL), pretende intensificar o controle da fronteira com a Venezuela, a partir de 1; de janeiro, quando tomará posse do cargo. Uma das principais medidas que pretende adotar é a exigência de documentos e de certificado de antecedentes criminais dos imigrantes venezuelanos. O empresário, que se elegeu com 53% dos votos, fez do controle do fluxo migratório sua principal bandeira de campanha. Denarium tem discurso semelhante ao do correligionário Jair Bolsonaro, presidente eleito. A carga contra os refugiados, porém, é criticada por especialistas.

;Sou favorável a um controle mais rigoroso da fronteira, pois há migração desordenada de venezuelanos. Vivemos dias de insegurança, violência e caos social;, disse Denarium ao Correio. Ele não descarta judicializar a questão. ;Embora haja um acordo de livre trânsito entre os países, vou esgotar as alternativas jurídicas de proteção a Roraima;, afirmou. ;Temos de restringir a entrada de pessoas, como a Itália e a Alemanha estão fazendo.; Responsável pela questão dos refugiados, ao lado do Ministério da Justiça, a Casa Civil da Presidência da República não quis comentar o assunto.

O posicionamento do futuro governador combina com o tom adotado por Bolsonaro. Durante a campanha, o presidente eleito defendeu a criação de campos de refugiados nas fronteiras. Contudo, a questão pode virar disputa de poder entre os governos federal e estadual, já que, para Bolsonaro, a crise migratória é assunto do Palácio do Planalto. ;Não podemos deixar o problema nas mãos do governo de Roraima;, afirmou, em agosto.

Denarium minimiza as diferenças. ;Acredito que, com Bolsonaro na presidência, teremos mais apoio para o controle da fronteira. Vou demandar do governo federal mais rigor na fiscalização da fronteira, com a exigência de passaporte, certificado de vacinação e de antecedentes criminais, como é feito em outros países;, disse.

A gestão dos refugiados foi o principal tema da campanha eleitoral em Roraima. A atual governadora, Suely Campos (PP), que não chegou ao segundo turno, pediu o fechamento das fronteiras, o que foi negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ela também editou um decreto restringindo a oferta de serviços públicos aos venezuelanos, considerado inconstitucional pela Advocacia-Geral da União (AGU).

Dos 85 mil venezuelanos que, desde 2015, ingressaram no Brasil, 54,1 mil solicitaram refúgio. O governo e o Alto Comissariado das Nações Unidas para refugiados (Acnur) construíram 13 abrigos para os imigrantes ;11 em Boa Vista e dois, em Pacaraima.

O sociólogo Antônio Carlos Mazelo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), visitou Roraima há duas semanas. ;Há muitos boatos. Falam que o venezuelano vai tirar empregos, vai sucatear os serviços. Há certa xenofobia e terrorismo para a população. A proposta do governador eleito não é a melhor para gerenciar essa questão;, pondera.

Maria Lúcia Lopes da Silva, da Universidade de Brasília (UnB), classifica o discurso de Denarium como ;contrário aos acordos e tratados internacionais de que o Brasil é signatário;. ;Não se pode negar acolhimento a essas pessoas, sob o risco de se abrir uma crise com o mundo inteiro. São seres humanos que enfrentam severas dificuldades e que estão procurando ter uma melhor qualidade de vida.;

Governador eleito de Roraima, Antônio Denarium (PSL)

Perfil

Conheça o governador eleito de Roraima

; Antônio Olivério Garcia de Almeida (Antônio Denarium)
; 54 anos
; Nasceu em Anápolis (GO) e foi morar em Roraima há 27 anos
; É casado e tem três filhos
; É especialista em finanças e gestão de serviços administrativos
; É empresário do ramo imobiliário e do agronegócio

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