Brasil

É preciso ensinar as crianças a identificar fake news, defende especialista

Para a jornalista americana Christine Bragale, que apresentou palestra nesta sexta-feria no Correio, a educação digital se tornou ferramenta essencial de defesa da democracia

Deborah Fortuna
postado em 09/11/2018 16:05
Christine participa de ONG que ensina estudantes dos EUA a reconhecerem uma notícia falsa
Em tempos de notícias falsas, informações duvidosas e imagens manipuladas, a educação digital aparece como ferramenta essencial para a garantia da democracia. O alerta é da jornalista e vice-presidente da organização não governamental (ONG) The News Literacy Project, Christine Nyirjesy Bragale, que apresentou uma palestra sobre o tema no auditório do Correio, na manhã desta sexta-feira (9/11).

"Um dos grandes desafios é que as pessoas não estão equipadas para distinguir a informação verdadeira", avalia a especialista norte-americana. A saída, defende Christine, é apostar na alfabetização midiática, ou seja, em ensinar, principalmente os jovens, a identificar uma informação falsa antes de replicá-la inadvertidamente.

Esse treinamento é uma das atividades à qual a ONG da qual a especialista faz parte se dedica. A entidade trabalha em escolas norte-americanas para que crianças entre 8 e 11 anos aprendam a desconfiar de informações que circulam nos meios digitais e aprendam a checar sua veracidade.

Entre os temas ensinados, estão as estratégias usadas pelos disseminadores de fake news ; o uso de sites com nomes semelhantes ao de veículos tradicionais, por exemplo ; e medidas que os internautas podem adotar para se proteger, como buscar a informação em outros sites para ver se ela é confiável ou não.

Disseminação veloz

Ações desse tipo são urgentes, acredita Christine. Segundo dados colhidos pela especialista, a cada minuto, no mundo, 973 mil pessoas acessam o Facebook, 18 milhões de mensagens de texto são enviadas e 187 milhões de e-mails são disparados. E nesse turbilhão de troca de informações, as mensagens falsas acabam sendo as mais populares, por serem produzidas sob medida para as crenças e emoções dos diferentes grupos sociais.

Estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) aponta as fake news têm 70% mais chances de serem compartilhadas no Twitter do que informações verdadeiras, que demoram seis vezes mais tempo para atingir o mesmo número de pessoas.
Uma das causas para isso, segundo Christine, é a facilidade com que uma notícia fraudulenta pode ser criada e compartilhada, hoje, em grande medida graças à evolução tecnológica. Há sites, por exemplo, que se especializam em produzir "pegadinhas" na internet, com manipulação de imagens e manchetes jornalísticas, o que pode acabar influenciando aqueles que não conseguem identificar uma mentira. "Há uma série de aplicativos que criam notícias falsas", aponta.

Já o combate a essa prática é bastante difícil. "Temos um site que lista todos as páginas de conteúdo falso, mas é muito difícil mantê-lo atualizado, porque a maioria sai do ar e outros são criados no lugar em pouco tempo;, descreve. "Outra coisa que nos preocupa nos Estados Unidos é que há um crescimento dos criadores de conteúdo, e um decréscimo do número de jornalistas", aponta.

Apesar das críticas, Bragale acredita que a internet e as redes sociais são importantes, principalmente para a divulgação de eventos importantes que não têm o apoio dos meios de comunicação tradicionais. Por isso, em vez de demonizar esses meios de interação, a especialista prefere apostar em ações como a identificação e eliminação de contas falsas e a educação do público, desde cedo. "É o que fazemos. Sempre pedimos aos estudantes para refletir sobre a informação que recebem por meio de seus dispositivos móveis", diz.

A visita da especialista a Brasília faz parte de uma das iniciativas da Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil, que conta com a parceria do Correio Braziliense, da Fundação Rede Amazônica, do ICBEU Manaus, da Universidade de São Paulo (USP), da Palavra Aberta, do Énois, da Alumini e da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

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