Brasil

No Dia Nacional do Doador de Sangue, hemocentros contam com baixo estoque

Vários hemocentros do país estão com baixo estoque de bolsas de sangue e mobilizam campanhas locais para ampliar o número de doadores

Ingrid Soares
postado em 25/11/2018 15:35

O servidor público Alexandre de Souza Garcia, 35 anos, aproveitou o dia do aniversário para realizar a doação de sangue

Novembro também é vermelho. Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Doador de Sangue, vários hemocentros do país estão com baixo estoque de bolsas de sangue e mobilizam campanhas locais para ampliar o número de doadores. O Ministério da Saúde lançou a campanha nacional ;Doe Sangue Regularmente, Tem Sempre Alguém Precisando de Você;, que é intensificada no Dia Nacional do Doador de Sangue, comemorado neste domingo (25/11).

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil possui 32 hemocentros coordenadores e 2.034 serviços de hemoterapia, incluindo hemocentros regionais, núcleos de hemoterapia, unidades de coleta e transfusão, central de triagem laboratorial de doadores e agências transfusionais. No país, são feitas anualmente cerca de 3,4 milhões de doações. Dados de 2016 da pasta indicam que 1,6% da população brasileira participa da ação, no entanto, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), apesar de estar dentro dos parâmetros, o ideal é que 3% da população seja doadora.

A situação é crítica no Hemocentro de Alagoas (Hemoal). A assessoria aponta que, são necessárias no mínimo 300 bolsas de sangue por dia já analisadas e prontas para liberação. A pasta tem trabalhado com a metade do mínimo necessário. Para tentar minimizar o impacto, o Hemoal realiza campanhas e coletas externas em escolas e igrejas para facilitar o acesso da população. ;Está complicado. Tivemos quatro feriados em um mês. Com isso, o número de doadores cai, os acidentes aumentam e com isso, precisamos de mais sangue. Estamos em uma situação complexa;, relatou a assessoria do Hemocentro de Alagoas.

Em São Paulo, o médico hematologista e hemoterapeuta da Fundação Pró Sangue Cássio Giannini, afirma que períodos como final de ano, férias, inverno, carnaval são os principais períodos de baixa doação. Na capital, tipagens sanguíneas como O positivo, O negativo, A negativo e B negativo estão em estado crítico. Ele aponta que a doação é mais necessária nos grandes centros, justamente onde o número de doadores é menor.

A Fundação abastece mais de 100 instituições de saúde da rede pública do Estado de São Paulo. ;Nunca tivemos o estoque em 100%. Agora está mais difícil, porque as pessoas viajam mais e doam menos. Estamos com o estoque 50% abaixo do que poderia ser. Tivemos problemas também com o período eleitoral em que ficamos com dificuldade de realizar entrevistas e campanhas na tv. No interior das cidades, a relação entre as pessoas é mais próxima, elas se sentem responsáveis pela comunidade. Já nas metrópoles, há mais dificuldade de doar sangue porque as pessoas não têm essa relação de proximidade e não veem uma relação de dependência com o outro;, analisou. Giannini ressalta que sem as doações, atividades hospitalares como cirurgias eletivas podem ser suspensas. ;Isso acaba causando uma série de atrasos.Eventualmente, a pessoa nunca sabe quando vai precisar. Conclamamos a população a doarem nos hemocentros de todo o país e ajudarem no abastecimento. Nos feriados, dá para separar um tempo e fazer esta ação;, pede.

Estoques em queda acentuada

A Fundação HemoMinas, está com uma queda acentuada no estoque de todos os tipos sanguíneos. A queda no comparecimento de doadores ocorre principalmente nos meses de Maio/Junho e Outubro/Novembro. A chamada especial, é para os tipos O Negativo e O Positivo, com quedas de 50% e 40% respectivamente. A rede é responsável por abastecer 95% das transfusões sanguíneas nas cirurgias eletivas do Estado.

Já na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba), os tipos A negativo, AB negativo e O negativo estão em estado crítico. No Pará, o Hemocentro Regional do Baixo Amazonas, em Santarém, disponibiliza as doações para ao menos 18 municípios e está com o estoque de bolsas de sangue baixo para a grande demanda.

O Hemocentro do Estado do Rio de Janeiro (Hemorio) está em campanha desde o início do mês e teve os estoques estabilizados. No entanto, ainda não estão no nível ideal. O tipo mais procurado é o O negativo, mas o pedido também é para as outras tipagens.Uma baixa significativa pode colocar em risco o abastecimento de emergências, maternidades e unidades de saúde do todo o estado. Um total de 250 bolsas por dia, de todos os tipos sanguíneos, é o suficiente para manter os estoques em níveis confortáveis. No entanto, a média tem ficado abaixo de 200 bolsas diárias. ;O Dia Nacional do Doador de Sangue é uma data especial, em que buscamos homenagear as pessoas que nos ajudam, o ano inteiro, a salvar vidas. O sangue não tem substituto e é essencial para o tratamento de emergências e de doenças muito graves, como a leucemia.;, lembra o diretor-geral do Hemorio, Luiz Amorim.

Na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), há o chamado de doadores de todos os tipos, principalmente O positivo. A baixa taxa de doações se repete no Instituto de Hematologia e Hemoterapia do Amapá (Hemoap), que está com dificuldades para atender a demanda por sangue de tipos sanguíneos raros como O- e B . O pedido se estende também é para as tipagens comuns. De acordo com o hemocentro, o estoque vem se mantendo abaixo do necessário, com 40 doações por dia, sendo que a meta é de 100 bolsas. Na Fundação Hemocentro de Brasília (FHB), os tipos O positivo, AB negativo e B negativo são os que estão com os níveis mais baixos nos últimos dias. Na instituição, a Semana Nacional do Doador vai até o dia 29 de novembro, com música ao vivo para os doadores.

Situação no DF

No Distrito Federal, os períodos que causam oscilações nos estoque que vão de junho a agosto e também em janeiro, meses que coincidem com férias escolares e períodos de seca. Nas festas de final de ano os pedidos aumentam. Com as festividades, há mais acidentes, como batidas de carro, que muitas vezes exigem transfusões e sobrecarregam os hemocentros. Segundo o gerente do Ciclo do Doador do Hemocentro, João Rogério Cardoso de Oliveira, o Distrito Federal possui uma das melhores taxas de doação de 2,3%. No entanto, para que continue nesse ritmo, é necessário que a população se conscientize da importância das doações. Ele explica que o procedimento é altamente confiável e que passa por uma série de requisitos. ;Todo o material utilizado é descartável, sem condição de contaminação. O doador também passa por triagem, responde um questionário com 43 perguntas que podem ajudar a identificar fatores que interfiram na doação de sangue. Cerca de 25% a 27% dos doadores tem alguma restrição que os impediram de doar temporariamente, seja por conta do peso, medicação, doença, tatuagens recentes;, explica.

A chefe do Núcleo de Triagem do Hemocentro de Brasília, Kamila Moraes, afirma que as mulheres podem doar até três vezes em um período de 12 meses, com intervalo mínimo de 90 dias entre as doações. Os homens podem doar até quatro vezes em um período de 12 meses, com intervalo mínimo de 60 dias entre as doações. Para tanto, é necessário que a pessoa se encaixe em algumas condições previstas, como por exemplo, ter idade entre 16 e 69 anos, gozar de boa saúde, não estar de jejum, pesar mais de 50kg e apresentar documento com foto, como carteiras de identidade e habilitação. ;Ao contrário do que algumas pessoas pensam, não deve vir em jejum, mas se alimentar bem, sem gorduras. Uma dica é consumir frutas, suco, pão com geléia, grelhados, e ainda evitar leite ou derivados. Outra dúvida comum é se é obrigatório doar frequentemente. Não. A pessoa pode doar apenas uma vez. Mas buscamos também doadores fidelizados, por já termos o histórico negativo de doenças. Há mais segurança do que aqueles que só vem uma vez;, esclarece.

Com uma única doação é possível salvar a vida de até quatro pessoas. Na família do servidor público Alexandre de Souza Garcia, a avó precisou de sangue para hemodiálise e o tio passou por uma cirurgia onde também necessitou de recebimento de bolsa de sangue. Doador há 10 anos, no dia do aniversário (16 de novembro), ao completar 35 anos, o morador do Paranoá decidiu fazer da data um presente para outras pessoas que também venham a necessitar da doação. ;O aniversário é meu, mas resolvi dar este presente para os outros e contribuir de alguma maneira aumentando a expectativa de vida de alguém. Gosto de ajudar o próximo. O sangue se renova. Esse pouco que doamos não faz diferença para a gente, mas para quem doamos, sim. É importante lembrar que não sente nada. Quebrem o tabu, se tiverem alguma dúvida, tirem um tempo para pesquisar sobre o assunto;, observa.

De folga, a jornalista Déborah Queiroz, 31 anos, doou sangue pela primeira vez

A jornalista Déborah Queiroz, 31 anos, doou sangue pela primeira vez. Antes, não contava com o peso mínimo de 50 kg para realizar a ação. Ela aproveitou o dia de folga. ;Fiz uma força e atingi o peso. A gente nunca sabe quando vai precisar. Em período de feriado sempre tem muita gente precisando. No futuro, pode ser a gente;. Para aqueles que têm medo, ela dá um conselho: ;Venha pela causa. Eu também tinha medo, mas não podemos deixar de fazer as coisas por conta disso. O segredo é não olhar para a agulha;, brincou. Morador da Asa Norte, o estudante de Física da Universidade de Brasília (Unb) Raul Grande também doou sangue pela primeira vez. ;Fui escoteiro desde criança. Isso me influenciou. Esse ato ajuda muito, tem muita gente que precisa e não dói nada. Só precisa de um pouco de coragem;, ressaltou.

O ato da doação dura em média entre 10 a 14 minutos, dependendo do fluxo sanguíneo do doador. O Ministério da Saúde aponta que 60% dos doadores são homens. A população mais jovem também é a que mais doa: jovens de 18 a 29 anos representam 42% das doações. Além da satisfação pessoal e de ajuda ao próximo, no âmbito do Distrito Federal, o candidato que comprovar pelo menos três doações de sangue feitas no período de um ano antes da inscrição no concurso a que pretende concorrer, tem direito à isenção de pagamento da taxa de inscrição, de acordo com a Lei 4.949/2012.

Referência Internacional

O Brasil é referência em doação de sangue na América Latina, Caribe e África. Desde 2009, a experiência brasileira é utilizada em cooperações técnicas com mais de 10 países para o fortalecimento e desenvolvimento da promoção da doação voluntária de sangue, qualificação da atenção integral à pessoa com Doença Falciforme e aperfeiçoamento da produção de hemocomponentes. Honduras, El Salvador e República Dominicana são exemplos de parceiros em projetos para o fortalecimento da doação voluntária de sangue.

Condições básicas

  • Ter entre 16 e 69 anos de idade (Menor de 18 anos deve apresentar o formulário de autorização e cópia do documento de identidade com foto do pai, mãe ou tutor/guardião);

  • Pesar mais de 51 quilos e ter IMC maior ou igual a 18,5 (descontar o vestuário);

  • Não estar em uso de medicamentos;

  • Apresentar documento oficial com foto (original ou cópia autenticada em cartório), em bom estado de conservação e dentro do prazo de validade. Documentos aceitos: carteira de identidade, carteira de trabalho, certificado de reservista, carteira nacional de habilitação, passaporte, carteira profissional emitida por classe ou carteira do doador da FHB. Não são aceitos crachás funcionais nem carteiras estudantis;

  • Dormir pelo menos seis horas, com qualidade, na noite anterior à doação;

  • Não ingerir bebida alcoólica nas 12 horas anteriores à doação;

  • Não fumar duas horas antes da doação;

  • Nada de jejum! É importante estar bem alimentado para doar sangue, assim como beber bastante água desde o dia anterior à doação. Pelo menos três horas antes da doação, evite alimentos gordurosos, como açaí, abacate, leite e seus derivados (queijo, iogurte, manteiga;), massas, frituras, ovos, maionese, sorvete, chocolate, etc. Se preferir doar depois do almoço, aguarde duas horas após ter se alimentado. O almoço deve ser leve, com carnes grelhadas, saladas, arroz e feijão sem carnes.

Linha Vermelha

É o transporte gratuito que faz o percurso ida e volta entre o Hemocentro e a Rodoviária do Plano Piloto, de segunda a sexta-feira. Os veículos são identificados com a logomarca do Hemocentro. Na Rodoviária, o ponto de parada fica no piso inferior, voltado para a Catedral, onde normalmente estacionam os ônibus e vans de transporte de servidores públicos. Veja abaixo os horários: Saída do Hemocentro: 8h, 9h, 10h, 11h, 12h, 13h, 14h, 15h, 16h, 17h. Saída da Rodoviária: 8h30, 9h30, 10h30, 11h30, 12h30, 13h30, 14h30, 15h30, 16h30.

Serviço

Hemocentro - Setor Médico Hospitalar Norte, Quadra 3, Conjunto A, Bloco 3, Asa Norte. Funciona de segunda-feira a sábado, das 7h às 18h. O Hemocentro oferece serviço gratuito de transporte para grupos de no mínimo 10 pessoas e que esteja em qualquer localidade do Distrito Federal. Basta entrar em contato pelos telefones (61) 3327-4413, 3327-4447, 99136-2495 ou pelo e-mail servicosocial@fhb.df.gov.br. Agendamento individual de doação de sangue: disque 160 opção 2, ou 0800 644 0160.

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