Jornal Correio Braziliense

Brasil

Nova contra-almirante defende as escolhas de Bolsonaro no primeiro escalão

Luciana Mascarenhas da Costa Marroni diz que atuação das Forças Armadas 'não deve se perpetuar'


Ela cresceu ouvindo falar do mundo militar. O avô foi general do Exército e o irmão médico da Marinha. Quando ela chegou às Forças Armadas não imaginava que chegaria ao posto de contra-almirante. Aos 52 anos, sendo 30 dedicados à Marinha, Luciana Mascarenhas da Costa Marroni é a segunda mulher a chegar ao cargo. Numa composição de governo onde cinco militares foram alçados à Esplanada dos Ministérios, Luciana acredita que o trabalho deles será um ;acerto de rumo; que ;não deve se perpetuar;.

Em visita a quartéis da capital federal, Luciana conversou com exclusividade com o Correio no início da noite de ontem. Para ela, as indicações do futuro chefe do Palácio do Planalto estão ligadas ;qualificação; dos escolhidos. ;Não se ganha uma guerra sem bom planejamento, bons estrategistas, bons administradores e nisso os militares são bons. Na política civil está se vendo muito desvio de conduta. (O presidente eleito) está pegando pessoas que têm competência e em quem ele confia. Não acho que deva ser uma coisa a ser estendida. Não é uma coisa que deva se perpetuar. O governo Bolsonaro está tentando fazer um primeiro acerto de rumo para depois as coisas fluírem naturalmente;, ponderou.

A contra-almirante aposta que os escolhidos de Bolsonaro ;estão entrando na política com uma chancela de moral e correção;. ;Está se trazendo pessoas com patriotismo. São pessoas que vão pensar no país, não em si, não no partido;, explicou. Ela emenda. ;As pessoas veem uma coisa errada e querem que as Forças Armadas entrem para resolver. Só que não dá para fazer tudo e se fizer sem qualificação, faz mal feito. As Forças Armadas precisam se preparar para sua função constitucional que é a defesa;, acrescentou.

A militar descarta totalmente um perfil autoritário na gestão, como durante a ditadura entre 1964 e 1985. ;São momentos completamente diferentes. Hoje, essas pessoas estão sendo trazidas para exercer cargos democráticos. Vimos em governos anteriores pessoas completamente desqualificadas assumindo funções importantes e não houve questionamento. Talvez seja o que a gente esteja precisando agora. Tomara que dê certo;, desejou.

A contra-almirante não recebe bem as críticas que as Forças Armadas recebem. ;Não gosto que falem mal. Me sinto um pouco magoada no meu próprio militarismo, está falando mal de mim. É injusto. As pessoas não fazem a menor ideia do que nós fazemos e de como contribuímos para a sociedade;, afirmou.

Luciana tem expectativa para o país nos próximos quatro anos. ;Espero que melhore a economia, porque se melhorar, fica bom para todo mundo. Não adianta a gente falar em segmentos da sociedade, de minorias, se não gerar emprego, renda, ter investimento nos serviços públicos, igualdade social, melhor distribuição de riquezas e trabalhos sociais. Toda a nossa estrutura pública melhora com uma economia acertada;, comenta.

A falta de ética é um dos principais desafios. ;As pessoas, se elas não estiverem sendo vistas, cometem pequenos erros, como cortar pelo acostamento no engarrafamento. Mas falta patriotismo também no que é melhor para o país, para a coletividade. O brasileiro perdeu isso;, lamentou.

Intervenção


Carioca e moradora da Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste do Rio de Janeiro, Luciana acredita que seis meses é pouco tempo para se resolver a situação da segurança pública no estado. ;É insuficiente para arrumar o caos que estava instalado. Quando a intervenção chegou, o que se viu foram órgãos de segurança completamente desestruturados. Foi dado um pontapé. Melhorou, como mostram os índices, apesar de não ser tão divulgado;, afirmou.

A maior dificuldade, segundo ela, é por fim no poder paralelo e acabar com áreas onde a polícia não entra. ;Temo que, com o fim da intervenção, isso não tenha continuidade no governo estadual e se perca. Começou-se a estruturar a segurança pública que foi destruída ao longo dos anos.Se deu as diretrizes de como fazer, mas o sucesso dependerá muito mais de um trabalho posterior à intervenção que eu não sei se vai acontecer. Eu me senti mais segura. Confesso que gostei de ver um policiamento mais ostensivo, mas sei que o problema da segurança está muito longe de ser resolvido;, conclui.


A mulher


Casada há 23 anos e mãe de dois filhos, a contra-almirante diz nunca ter sofrido com o machismo na carreira na Marinha, como engenheira especialista em telecomunicações. ;A gente vai evoluindo da mesma forma entre homens e mulheres na minha área. Ano que vem, a primeira turma de mulheres entrarão no corpo para fuzileiros navais e corpo da armada da Marinha, aí sim haverá uma adaptação. Nunca percebi uma atitude que me segregou por ser mulher. Agora, uma coisa mudou: quando eu entrei as mulheres não se tornavam oficial-general. Houve uma equalização. Hoje, que atividades iguais feitas por homens e mulheres são tratadas de forma igual. Graças a isso estou aqui hoje;, salienta.

Luciana comentou a indicação do governador eleito, Ibaneis Rocha, para o comando-geral da Polícia Militar. No próximo ano, assume a coronel Sheyla Sampaio. ;Fico feliz. Tenho certeza que ela foi escolhida por ter competência e isso inspira outras mulheres. Dá uma certa confiança de que, se você fizer sua parte e aproveitar as oportunidades, se alcança uma posição. Fico feliz por nós mulheres assumimos esses cargos. Não gostaria que isso acontecesse por sermos somente mulheres, mas isso está acontecendo por capacidade;, comemora. Nos próximos meses ela assessorará um almirante quatro estrelas enquanto aguarda a indicação para chefiar uma diretoria.