Paloma Oliveto
postado em 01/12/2018 07:00
Considerada uma doença erradicada em boa parte do mundo, o sarampo volta a crescer globalmente, alerta um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2017, houve aumento de 30% de casos em relação a 2016. As Américas, o Leste do Mediterrâneo e a Europa foram as regiões com maiores altas, depois de 16 anos computando queda nos registros dessa enfermidade viral, altamente infecciosa. O Brasil não mandou estatísticas dos últimos 12 meses para a elaboração do documento, mas, segundo o Ministério da Saúde (MS), não houve casos em 2016 e 2017.
O país, porém, vive uma situação bem diferente agora: de janeiro a 27 de novembro, já se confirmaram 10.163 casos e 12 óbitos. No Amazonas e em Roraima, há surtos da doença. Paralelo a isso, o Brasil apresenta queda nas imunizações ; situação observada no restante do mundo pelo relatório da OMS. Dados do MS apontam queda nas coberturas vacinais desde 2014, quando a adesão ao programa de imunização foi de 102,3% (primeira dose) e 92,8%. Dois anos depois, os percentuais caíram para 95,4% e 78,7%, e, em 2017, baixaram para 85,2% e 69,9%. Entre as possíveis causas do fenômeno, o ministério destaca a falsa sensação de que não há mais necessidade de se vacinar devido ao sucesso das campanhas anteriores, o desconhecimento individual sobre a importância das vacinas, a incompatibilidade com novos horários dos postos de saúde, e a circulação de notícias falsas na internet e no WhastApp, que colocam em dúvida a eficácia e a segurança da imunização.
A OMS também aponta as fake news sobre vacinas como uma das explicações para o ressurgimento não só do sarampo, mas de outras doenças que já estavam erradicadas, como a poliomielite. ;O aumento dos casos de sarampo é profundamente preocupante, mas não surpreendente;, afirmou, em uma teleconferência de imprensa, Seth Berkley, o CEO da Gavi, a Aliança de Vacinas. ;A complacência em relação à doença e a disseminação de notícias falsas sobre a vacina, combinados a um sistema de saúde em colapso na Venezuela e a bolsões de fragilidade e baixa cobertura de imunização na África, provocaram o ressurgimento global do sarampo após anos de progresso. As estratégias existentes precisam mudar, caso contrário, continuaremos vendo um surto atrás do outro;, completou. Em 2017, houve 110 mil mortes causadas pela doença.
;O ressurgimento do sarampo é algo extremamente preocupante, com surtos ampliados ocorrendo em todas as regiões, e, particularmente, em países que alcançaram ou estavam perto de alcançar a eliminação da doença;, disse, no evento, Soumya Swaminathan, diretor-geral adjunto para Programas da OMS. Esse era o caso do Brasil, que, em 2016, recebeu das Nações Unidas o certificado de erradicação da enfermidade. ;Sem esforços urgentes para aumentar a cobertura de vacinação e identificar populações com níveis inaceitáveis de crianças com ou sem imunização, corremos o risco de perder décadas de progresso na proteção de crianças e de comunidades contra essa doença devastadora, mas totalmente evitável;, emendou.