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Como é o trabalho de identificação de ossadas de desaparecidos na ditadura

Numa vala clandestina em São Paulo, mais de mil cadáveres foram encontrados em 1990. Até hoje, somente quatro foram identificados.

Otávio Augusto
postado em 05/12/2018 13:10
As ossadas estão em caixas num laboratório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Vinte e oito anos após a descoberta do cemitério clandestino de Perus, em São Paulo, somente quatro ossadas foram identificadas. Dos 1.049 sacos plásticos encontrados em setembro de 1990, 890 passaram pelo processo de mapeamento antropológico, que especifica estatura, faixa etária, sexo e características físicas. Dessas, 400 já contam com mapeamento genético. Ontem, o grupo que trabalha no reconhecimento dos esqueletos recolheu 32 amostras de DNA, durante o 1; Encontro Nacional de Familiares de Desaparecidos Políticos.

Atualmente, as ossadas estão em caixas num laboratório da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O Ministério da Educação repassa cerca de R$ 200 mil anuais para o trabalho de identificação. Os pesquisadores balizam o trabalho por 41 desaparecidos políticos. A identificação é feita com o cruzamento dos dados antropológicos, dos restos mortais e genéticos.

Duas vítimas foram identificadas na década de 1990. A empreitada parou e só foi retomada em 2014. Em fevereiro deste ano, a ossada de Dimas Antônio Casemiro foi localizada. No início da semana, nove meses depois, a do bancário Aluízio Palhano, sindicalista desaparecido em São Paulo, em 1971.
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Samuel Teixeira Gomes Ferreira, coordenador científico do Grupo de Trabalho Perus (GTP) e diretor do Instituto de DNA da Polícia Civil do DF, comemora os resultados. ;As famílias precisam de uma resposta do Estado. Elas precisam de alguma notícia de seus parentes. É um luto que nunca acaba. Enquanto não há um desfecho a expectativa continua;, ponderou.

A identificação é complexa. As ossadas são enviadas à Bósnia para serem mapeadas geneticamente e estudadas por uma equipe multidisciplinar. ;Elas são antigas, estavam mal- acondicionadas e isso dificulta o trabalho. A degradação é muito grande. A partir de vestígios começamos a investigar;, acrescentou Samuel. Para o DNA são recolhidas amostras dentária e de um osso longo, como o fêmur.

Nos últimos dois anos, as equipes do GTP visitaram 16 cidades do Brasil para fazer a coleta de material genético de familiares de desaparecidos políticos. A de Aluízio, por exemplo, foi recolhida em março de 2016. A filha dele colaborou no Rio de Janeiro. ;Existem outros casos que também precisam ser investigados. É um trabalho técnico e humanitário. É princípio de dignidade humana;, concluiu Samuel.

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