Brasil

Nove meses após morte de Marielle, polícia faz buscas na casa de vereador

Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro cumprem mandados de busca e apreensão na casa e no gabinete de Marcello Siciliano, suspeito de participação nos assassinatos da vereadora e do motorista dela, há nove meses

Gabriela Vinhal
postado em 15/12/2018 07:00
Marcello Siciliano foi à Cidade da Polícia prestar esclarecimentos:

No dia em que a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes completou nove meses, a Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público do Rio cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do vereador Marcello Siciliano (PHS), suspeito de relação com os assassinatos. Agentes da Delegacia de Homicídios da capital foram a 15 endereços espalhados pelos estados do Rio e de Minas Gerais: na zona oeste da cidade, em Nova Iguaçu, em Angra dos Reis, em Petrópolis e em Juiz de Fora (MG).

A polícia, no entanto, não divulgou nenhum resultado oficial. Nos locais foram apreendidos um tablet, um computador, um HD e documentos. A corporação levou ainda um cofre que estava na parede da casa do vereador, mas não conseguiu abri-lo. Já no gabinete parlamentar dele, na Câmara de Vereadores do Rio, houve apreensão de computadores para investigação. Todos os objetos recolhidos foram levados para a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), que investiga o caso. De acordo com o delegado Rivaldo Barbosa, chefe da Polícia Civil do Rio, a ação ;estava buscando provas concretas para a condenação dos assassinos;. ;Eu não posso levantar o sigilo, senão estrago a investigação;, explicou.

O vereador, que não estava em casa no momento da busca, chegou depois à Cidade da Polícia, na Zona Norte, para prestar esclarecimentos. O depoimento demorou cerca de cinco horas. Na saída, falou à imprensa: ;Vim espontaneamente, desbloqueei meu telefone e entreguei. Eu, mais do que ninguém, quero a verdade;. Antes, quando soube do mandado, ele divulgou um áudio no qual critica a determinação judicial. ;Continuo indignado com essa acusação maligna que fizeram a meu respeito. Estou aqui me colocando à disposição da Justiça para o que for preciso;, afirmou. ;Tenho certeza de que, no final disso tudo, vão ver que foi uma baita covardia que tentaram fazer comigo. Quero que isso se resolva. Minha família está sofrendo. Tenho certeza de que a família da Marielle não merece isso, merece a verdade. A verdade que tem de vir à tona.;

A mulher do vereador, Verônica Garrido, foi levada para prestar depoimento como testemunha. Ela ficou na delegacia por três horas e saiu por volta das 13h50, sem falar com jornalistas.

Durante as investigações, logo após o assassinato de Marielle e Anderson, uma testemunha chegou a denunciar à Polícia Civil uma suposta participação do vereador no crime. Ele teria planejado a morte com o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica. À época, Siciliano prestou depoimentos, assim como outros vereadores. Ele negou todas as acusações.

Na última quinta-feira, a Delegacia de Homicídios realizou uma primeira operação para prender milicianos, alguns, inclusive, suspeitos de envolvimento no crime. A ação, que determinou mandados de prisão e de busca e apreensão relacionados aos assassinatos, ocorreu em dois estados, em mais de 15 endereços. Ninguém, porém, foi preso.


Questão fundiária

A investigação busca apurar o suposto envolvimento de Siciliano em grilagem de terras na zona oeste da capital fluminense. A polícia suspeita que os assassinatos de Marielle e Anderson teriam como causa a questão fundiária na região dominada por milícias. Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, o secretário de Segurança, general Richard Nunes, afirmou que a morte da parlamentar estaria relacionada à atuação de sua equipe na regulamentação de terrenos naquela área. Segundo o general, os milicianos teriam superestimado a capacidade da vereadora de interferir em seus negócios.


Tiros na cabeça

Defensora dos direitos de moradores de favelas, negros, mulheres e população LGBT, Marielle Franco levou quatro tiros na cabeça dentro de seu carro na noite de 14 de março. Ela e o motorista, Anderson Gomes, saíam de um evento no Estácio, região central do Rio, quando foram executados. Desde então, autoridades declararam que o caso estava perto do fim ao menos cinco vezes, mas poucas informações concretas foram divulgadas, e as apurações vêm sendo questionadas. Foi noticiado que as câmeras de segurança da prefeitura, do ponto exato onde ocorreram os crimes, tinham sido desligadas, mas não ocorreram mais esclarecimentos sobre essa questão.

;Tenho certeza de que, no final disso tudo, vão ver que foi uma baita covardia que tentaram fazer comigo. Quero que isso se resolva. Minha família está sofrendo;
Marcello Siciliano, vereador

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação