Jornal Correio Braziliense

Brasil

Transporte coletivo e coleta de lixo somente sob escolta no Ceará

Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social contabiliza ao menos 277 prisões, incluindo a apreensão de menores, e mais de 180 ataques registrados em 43 municípios do estado


Passada mais de uma semana desde o início da onda de violência por parte do crime organizado, o Ceará enfrentava ontem dificuldades com o transporte coletivo e a coleta de lixo, especialmente em Fortaleza, em meio a repetidos atentados contra prédios públicos e vias de transporte. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social contabilizava ao menos 277 prisões, incluindo a apreensão de menores, e mais de 180 ataques registrados em 43 municípios do estado. De madrugada, a explosão de uma bomba abriu um buraco no viaduto do metrô da capital, em Porangaba. Na cidade de Forquilha, um ônibus e cinco carros foram incendiados.

Com apoio de cerca de 400 agentes da Força Nacional de Segurança, a polícia estadual manteve presença reforçada na região metropolitana de Fortaleza, escoltando coletivos e caminhões de coleta de lixo ; um dos serviços públicos mais afetados pela crise. Helicópteros da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) da SSPDS dão apoio às ações, que permitiram reduzir a indicência dos ataques ; na quarta-feira, o balanço oficial para o dia foi de 11 ações. O transporte público, no entanto, continuava circulando irregularmente, sujeito a reduções de frota.

A série de ataques é atribuída a facções criminosas como o Comando Vermelho (CV) e os Guardiões do Estado (GDE). O motivo seria o anúncio do novo secretário de Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, que prometeu endurecer as regras no sistema prisional. Na quarta-feira, 21 presos foram transferidos para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. O Ministério da Justiça e Segurança Pública disponibilizou 60 vagas para detentos do Ceará nas prisões de segurança máxima administradas pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Pelas redes sociais, o governador Camilo Santana (PT) afirmou que houve redução significativa das ações criminosas na capital e interior. ;O trabalho das nossas forças de segurança, com o importante apoio das tropas federais e de estados parceiros, tem sido intenso e permanente, o que merece todo o nosso reconhecimento;, disse. ;Nossa prioridade tem sido garantir a segurança da população e a retomada normal de todos os serviços.;

Terrorismo

O conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Thyone, avalia que a ofensiva das facções é fruto da crise do sistema penitenciário, e aponta que é necessário um controle eficaz da área por parte do Estado. Além disso, ele defende uma discussão sobre o endurecimento das leis.

;Tivemos várias rebeliões em 2018. Neste ano, são os ataques. Não é uma novidade. Precisamos pensar na questão mais profunda do controle do Estado com relação ao sistema penitenciário. Até quando vamos ficar reféns?;, questiona Thyone. ;Um cidadão sendo chantageado por uma ligação (telefônica) de dentro do presídio faz com que nos tornemos desprotegidos. O que o criminoso precisa fazer para que esses ataques sejam classificados como terroristas? Poderia ou não ser enquadrado em algo mais grave do que vandalismo? É preciso ter uma discussão nesse sentido;, sustenta.