Agência Estado
postado em 12/01/2019 08:03
Advogados do médium Antônio Miguel Rodrigues, de 53 anos, de Aparecida de Goiânia (GO) e suspeito de quatro homicídios e uma lesão corporal grave na Bahia e em Goiás, disseram nesta sexta-feira, 11, que as pessoas morreram em decorrência do precário estado de saúde e não por complicações das cirurgias espirituais.
O médium foi denunciado por parentes das supostas vítimas nas delegacias de Aparecida de Goiânia, onde mantém um centro espírita chamado Grupo Espírita Bezerra de Menezes, e de Barreiras (BA). As denúncias iniciaram na cidade baiana e depois em Aparecida de Goiânia. O médium realiza as cirurgias há 35 anos.
Segundo o advogado Daniel Rocha, "as pessoas que morreram já tinham o diagnóstico preexistente e na última hora foram procurar auxílio" com o médium. Ele negou também que Rodrigues tenha usado objetos perfurantes, como tesouras ou bisturis, muito menos martelo, como relataram à polícia os parentes das vítimas.
Sobre o caso de lesão corporal grave, de Mário Joaci Pereira Rocha, 71 anos, que teve os testículos perfurados, o advogado disse que o médium relatou que não se recorda do idoso. Em Barreiras, onde Mário Rocha foi operado, mais de 500 pessoas realizaram as cirurgias espirituais na chácara de uma vereadora em 10 de novembro de 2018, ao custo, segundo relatos à polícia, de R$ 850, referentes à consulta, cirurgia e medicamentos.
Entre elas estavam Vanderluce Soares dos Santos, de 42 anos, e Arnaldo Domingos dos Passos, de 78, que morreram de infecção generalizada, respectivamente, nos dias 29 e 31 de dezembro de 2018 no Hospital do Oeste, em Barreiras.
O advogado negou também que houvesse cobrança de cirurgias. "Se fosse pra cobrar, seria muito mais, como em hospitais normais", declarou. "Ele usa agulha de acupuntura, não usa bisturi, tesoura, ele refutou essas alegações, até porque usa a prece. Pega no pulso da pessoa e faz um diagnóstico, como se fosse um raio-x".
Também advogado do médium, Gilberto Alves negou que o médium usasse martelo nas cirurgias. Em entrevista à TV Anhanguera, de Goiás, e que foi ao ar nesta quinta-feira, Rodrigues declarou que "as pessoas (pacientes) são médiuns e nem sabem, e chegaram a alcançar (a ver) o aparelho (martelo) de outro plano espiritual".
"Fiz um tratamento sem cortes, uso as mãos e agulhas usadas pra aplicar insulina. As entidades espirituais aplicam energias nas pessoas por meio dessas agulhas e fazem desmaterializar as enfermidades. Queria ajudar muito as pessoas com a cirurgia espiritual, vou provar minha inocência", disse o médium.
Na delegacia de Aparecida de Goiânia já apareceram mais casos de denúncia contra o médium nesta sexta-feira, segundo informou a delegada regional Cibelly Tristão, que não deu detalhes sobre se as denúncias são de homicídio ou lesão corporal.
Em Aparecida de Goiânia, as supostas vítimas do médium são Sebastiana Peixoto Pires, de 73 anos, morta no ano passado, e Raimunda Souza Matos, de 52, que morreu em 2015 dentro do centro espírita. O depoimento do médium deve ocorrer na semana que vem.
O delegado Romero Cavalcanti, que investiga o caso em Barreiras, disse nesta sexta que esperava o depoimento de dois médicos que atenderam as supostas vítimas do médium, mas eles não apareceram. "Devemos ouvir o médium na semana que vem ou na outra", declarou.