A cultura brasileira está prestes a receber mais um golpe: o Museu de Cabangu, que funciona na casa onde nasceu Santos Dumont, em 1873, no município que leva seu nome, em Minas Gerais, recebeu nesse domingo (13/1) seus últimos visitantes. Atolado em dívidas e com a estrutura deteriorada e o acervo ameaçado, o museu deve amanhecer nesta segunda (14/1), com as portas fechadas, após ter exibido por 70 anos importante coleção de cartas, fotografias, documentos, roupas e móveis do "pai da aviação".
"Vamos fechar antes que aconteça o mesmo que aconteceu com o Museu Nacional, no Rio", anunciou a curadora Mônica Castello Branco, filha do fundador. O museu carioca, um dos principais do País, foi destruído por um incêndio na noite de 2 de setembro de 2018.
Mônica atribui o fechamento aos atrasos na subvenção da prefeitura, de R$ 12,6 mil mensais. Alegando falta de repasse de verbas estaduais devidas ao município, a prefeitura suspendeu os pagamentos em agosto. "Já havia atrasos anteriores e a dívida foi se acumulando pelos juros e encargos. Hoje, o museu tem débitos de R$ 150 mil, a maior parte em dívidas trabalhistas."
Os quatro funcionários estão sem receber regularmente há um ano. O aperto financeiro reduziu o investimento em conservação e três galpões de apoio estão fechados há cinco anos. O acervo foi transferido para a casa principal, que também tem infiltrações e rachaduras.
Em 2018, a fundação lançou a campanha online Somos Todos Museu Cabangu, com o objetivo de arrecadar R$ 177 mil, mas só conseguiu R$ 7 mil. Os débitos levaram à inscrição do CNPJ no cadastro de devedores e a fundação não consegue as certidões negativas para se beneficiar da Lei Rouanet de incentivo à cultura, por exemplo.
Na cidade de 46,3 mil habitantes, na Zona da Mata mineira, o fechamento do museu desperta reações. "É um símbolo importante que estamos perdendo. Ser a terra de Santos Dumont sempre foi um orgulho da nossa gente", lamentou a secretária paroquial Maria Luiza de Lima.
;Voto de confiança;
O local, que recebe 2 mil visitantes por mês, chegou a ficar uma semana fechado em fevereiro de 2018, mas reabriu depois que a prefeitura pagou dois dos seis meses de salários atrasados dos funcionários. O presidente Tomás Castello Branco disse na ocasião que a reabertura seria um "voto de confiança" ao município, mas logo os repasses voltaram a atrasar.
A casa onde Alberto Santos Dumont nasceu funciona como museu desde 1973 - ano do centenário do inventor - e foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Em 2018, a prefeitura fez um projeto para restauração, orçada em R$ 12 milhões, mas faltou recursos. O imóvel pertence à prefeitura, mas os cuidados e manutenção foram assumidos pela Fundação Casa de Cabangu, com apoio do município. A Aeronáutica cuida da segurança do museu e da área externa e, mesmo com o fechamento à visitação, manterá esse serviço para proteger o acervo.
Intervenção
O secretário de Administração de Santos Dumont, José Geraldo de Almeida, disse que a prefeitura não permitirá o fechamento. "Se fechar, vamos entrar com medida judicial. A área é do município, podemos cancelar o convênio e assumir o museu." Procurado, o governo de Minas informou ter repassado, na primeira semana da atual gestão, R$ 500 milhões para os municípios mineiros. Informou que trabalha para regularizar os repasses às prefeituras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.