O presidente Jair Bolsonaro disse, nessa terça-feira (22/1), em reunião com empresários, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que o País vai continuar no Acordo de Paris, o tratado assinado por 195 países para estabelecer esforços conjuntos para tentar conter o aumento da temperatura do planeta a menos de 2;C até o final do século.
Ele deu a declaração após ser cobrado pelos empresários sobre o que ele pretendia fazer sobre o problema das mudanças climáticas. Além de falar que fica no acordo, disse que não vai aceitar ser acusado de ser responsável por degradação ambiental. Depois, a jornalistas, o presidente disse apenas: "Por ora, será mantido".
O jornal O Estado de S. Paulo apurou, junto ao Itamaraty, que deverão, porém, ser cobradas contrapartidas. Entre elas, a de que os países desenvolvidos cumpram a promessa de dar US$ 100 bilhões ao ano, a partir de 2020, para ajudar os países em desenvolvimento a fazer sua transição para uma economia de baixo carbono.
Na reunião com empresários, que tinha representantes da Nestlé, Arcelor Mittal, Embraer e de bancos internacionais, o presidente também foi questionado sobre Amazônia e sobre a situação dos povos indígenas. Segundo empresários presentes à reunião, Bolsonaro disse que o fato de haver mudanças no governo na área indígena não significa que os povos serão prejudicados. Em um dos primeiros atos do governo, a tarefa de demarcação de terras indígenas passou da Funai para o Ministério da Agricultura.
Mais cedo, após fazer seu discurso oficial, Bolsonaro deu, pela primeira vez, uma declaração no sentido de que vai trabalhar para combater as mudanças climáticas. "Nós pretendemos estar sintonizados com o mundo na busca da diminuição de CO2", afirmou a Klaus Schwab, fundador do fórum.
A declaração chamou atenção porque até então a posição do novo governo em relação ao problema era bastante incerta. Depois de Bolsonaro ter dito diversas vezes que deixaria o acordo, o governo começou a dar sinais de que voltaria atrás, como informado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mas sempre em tons condicionais. E mudanças na estrutura dos ministérios colocaram em dúvida como o governo vai lidar com a questão.
Na conversa com o economista alemão, assim como em seu curto discurso, Bolsonaro abordou a questão ambiental, assunto que recebe destaque no fórum. "Somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós. A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária. Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo", disse o presidente.
"Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis", complementou.
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A preocupação com a imagem do Brasil em relação ao ambiente também foi explicitada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. No hotel da delegação brasileira, durante a tarde de terça-feira, o chanceler manteve uma reunião com apenas alguns assessores em uma biblioteca.
Nessa reunião, Araújo insistia que o Brasil precisa rebater as críticas estrangeiras de que estaria colocando em risco a proteção ambiental. Na reunião, foi sugerido que o agronegócio brasileiro promovesse até mesmo um evento para mostrar a sustentabilidade do setor.
Houve uma espécie de acerto de que Brasil precisa fazer campanha internacional para frear as cobranças.
Repercussão
No Brasil, entidades ambientalistas receberam com ressalvas as falas de Bolsonaro. "O presidente merece cumprimentos por ter destacado a necessidade de harmonia entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental. Bolsonaro também se comprometeu a trabalhar juntamente com o resto do mundo pela diminuição das emissões de CO2 - é a primeira vez que o presidente menciona luta contra a mudança climática de forma positiva, sem senões ou condicionantes", comentou Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima.
"Infelizmente, o discurso não combina com a realidade dos primeiros 21 dias de administração Bolsonaro. O governo federal tem agido de forma concreta para subjugar a agenda ambiental ao agronegócio e desmantelar a governança climática. Os resultados podem ser vistos no chão: o desmatamento na Amazônia está em alta e uma onda de invasões de terras indígenas está em curso", complementou.
O Greenpeace destacou que "ser o país com mais recursos naturais não quer dizer ser o que melhor preserva o meio ambiente". A organização lembra que entre junho de 2017 e agosto de 2018 "o Brasil perdeu 790 mil hectares de floresta, o maior índice de desmatamento dos últimos 10 anos". E ressaltou que "terras indígenas e unidades de conservação estão sendo invadidas e depredadas".
Para a ONG, "enaltecer a narrativa que somos o país mais preservado do mundo sinaliza perigosamente para um futuro com maior expansão da economia baseada na produção e exportação de commodities, no monocultivo e uso excessivo de agrotóxicos, com perda de qualidade do solo, redução da biodiversidade e à custa de muito desmatamento e violação de direitos humanos". (Colaborou Giovana Girardi)