Escutas telefônicas feitas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) revelam ações de milicianos presos na Operação Os Intocáveis, deflagrada nesta terça-feira (22/1)..
De acordo com o MP-RJ, o grupo atuava na grilagem de terras; na compra, venda e aluguel irregular de imóveis; na cobrança irregular de taxas da população local; e na extorsão e na receptação de mercadoria roubada, entre outros crimes.
Em denúncia divulgada pelo Ministério Público, as gravações mostram ameaças dos milicianos aos moradores da comunidade que não pagaram o aluguel de seus empreendimentos imobiliários.
Em uma chamada do dia 5 de novembro de 2018 entre Manoel de Brito Batista, conhecido como Cabelo, e uma voz masculina não identificada, o suspeito diz para o outro não deixar uma moradora entrar caso ela não pagasse o aluguel no dia. Segundo o MP, "a utilização da força e a demonstração de poder resta claro nos diálogos".
"Se ele não pagar o aluguel hoje, amanhã é pra travar não deixar ela entrar não tá", diz Batista ao seu interlocutor.
Outros trechos evidenciam a participação ativa de Manoel Batista no ramo imobiliário em Rio das Pedras, além das ligações clandestinas para o abastecimento de água e energia dos empreendimentos.
Em uma ligação de 15 de novembro de 2018, ele diz: "eu tenho oito apartamentos naquele prédio, o resto é tudo do Adriano e do Mauricio entendeu, você procura ele e fala com ele entendeu, não adianta ficar me mandando mensagem, e você fala pro João que o Aurélio acabou de me falar aqui que ele falou que vai cortar os cabos lá no Pinheiro, se ele cortar, eu vou cortar os dois braços dele e as duas pernas".
Foram presos na terça-feira cinco suspeitos: Maurício Silva da Costa, tenente reformado; Ronald Paulo Alves Pereira, major da PM conhecido como Major Ronald; Laerte Silva de Lima, Manoel de Brito Batista, o Cabelo; e Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, o Aurélio
Marielle
Um dos detidos é acusado de integrar o Escritório do Crime, organização criminosa suspeita dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.
"Todos esses presos serão ouvidos na expectativa de que possam colaborar com outras investigações. A gente não descarta a participação no crime de Marielle Franco, mas também não podemos afirmar isso neste momento", afirmou a promotora Simone Sibílio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP-RJ).
Ela também atua na investigação do assassinato da vereadora. "Algumas pessoas que foram presas hoje (ontem, terça-feira) também integram o Escritório do Crime, mas a investigação teve como objetivo combater essa organização em Muzema e Rio das Pedras", explicou.
São Ronald e o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, que está foragido, os suspeitos de integrar o Escritório do Crime. Trata-se de um grupo de extermínio acusado de assassinar pessoas que "atrapalham" os interesses dos milicianos. Os dois prestaram depoimento como testemunhas na Delegacia de Homicídio na investigação do assassinato da vereadora. A grilagem de terras na zona oeste, principal atividade dos milicianos, é apontada como pano de fundo para o assassinato de Marielle.