Danos
Postos a serviço do crime
O roubo em oleodutos degringola o mercado de combustíveis. Parte da carga levada por bandidos é distribuída a postos que vendem gasolina adulterada, não pagam impostos, não respeitam a legislação trabalhista e, em alguns casos, estão a serviço de organizações criminosas. Em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC) controla cerca de 25% dos estabelecimentos, segundo uma fonte ouvida pelo Correio, que fez um trabalho de consultoria para o governo estadual. A situação sai de controle de tal maneira que, em determinados endereços, fiscais do governo não atuam.
O Executivo paulista não comenta a atuação do PCC no mercado. Contudo, o estado passou a cruzar informações e a intensificar as operações de inspeção. Lá, funcionam 8,5 mil postos varejistas de combustíveis. No ano passado, a Secretaria da Fazenda e Planejamento fez 3.500 verificações fiscais ; 41% do total. Segundo a pasta, todas as regiões do estado foram vistoriadas pelos 1,5 mil agentes.
Fiscalização
Em nota, a secretaria frisa que, em 2018, foram coletadas amostras de combustíveis em mais de 600 postos, resultando na cassação de 37 permissões de funcionamento. ;O ano encerrado também se notabilizou pela utilização intensa do cruzamento de informações digitais para fiscalização desses estabelecimentos;, ressalta o texto.
A secretaria está investigando a utilização de postos para emissão irregular de notas fiscais, o que causou um prejuízo estimado em R$ 200 milhões aos cofres paulistas no ano passado. ;Os resultados parciais da Operação Combustão indicam a cassação de 53 postos varejistas, sendo cobrados, até o momento, R$ 218 milhões em impostos, multas e juros;, informa a nota.
Em Brasília, tubulações provocam apreensão
Na capital federal, esse tipo de tubulação passa por locais de grande movimentação, como Setor de Inflamáveis, próximo à Cidade Estrutural; Rodoviária Interestadual; e Zoológico, além de cortar vias importantes, como EPTG e EPIA.
Para quem mora ou trabalha perto de dutos, fica a sensação de ameaça a qualquer momento, com o aumento da criminalidade. ;Quando se trata de material químico e inflamável, sempre há uma insegurança. Não sabemos o que pode acontecer em caso de uma violação;, pondera o corretor de imóveis Manoel Rodrigues Paes Landim, 59 anos, morador de Ceilândia.
Para a esposa dele, que faz estágio na sede da Defensoria Pública, no SIA, a proximidade não é saudável. ;Muita gente circula por aqui, há casas, comércio. Ficamos com medo. Esse tipo de estrutura deveria ficar em áreas isoladas. No caso do Setor de Inflamáveis, a Cidade Estrutural está muito próxima;, ressalta a estudante de direito Dulcilene Mendes da Silva, 45.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), acredita que a falta de fiscalização e o imposto alto incentivam o aumento do crime. ;Em média, no Brasil, um litro de gasolina tem 50% de imposto. A quadrilha rouba, mas alguém compra e tem lucro. É muito dinheiro envolvido. Os distribuidores clandestinos e os postos que compram ganham muito dinheiro. Isso gera o ciclo vicioso e faz as perfurações estarem num ritmo assustador;, explica.
A vendedora ambulante Ana Celeste, 39, concorda. Ela monta sua barraca de guloseimas há 10 anos no mesmo local, no SIA, nas imediações da sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Lá, a rua é cercada por placas que sinalizam os dutos. ;Quando comecei a trabalhar aqui, não sabia do perigo. Um caminhoneiro que me contou. Hoje, tenho receio. Acho que deveria ser mais fiscalizado e monitorado. Imagina uma tragédia no meio da cidade?;, questiona.
Em ascensão
Veja o número de roubos em oleoduto em quatro anos*
Ano - Roubos
; 2015 - 10
; 2016 - 28
; 2017 - 187
; 2018 - 195
; 2019** - 8
*A agência calcula somente roubos
**Até 22 de janeiro / Fonte: ANP