Agência France-Presse
postado em 28/01/2019 19:54
Brumadinho, Brasil - O vazamento de lama e rejeitos de mineração que se seguiu ao rompimento da barragem da companhia Vale na Mina do Córrego do Feijão, na cidade de Brumadinho (MG), avançou até o rio Paraopeba, afetando o abastecimento de água potável de uma comunidade indígena, informaram fontes da região.
"Ontem [domingo] às 4h da manhã reparamos que o rio já chegou sujo, e às 16h começaram a aparecer os peixes mortos", disse por telefone à AFP o cacique Háyó Pataxó Hã-hã-hãe, que se reuniu nesta segunda-feira (28/1) com um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai).
A aldeia Naô Xohã ("espírito guerreiro") é formada por 27 famílias que vivem nas margens do Paraopeba, no município São Joaquim de Bicas, - a cerca de 20 km de Brumadinho -, onde ocorreu a tragédia que, segundo o último balanço provisório, deixou 60 mortos e 292 desaparecidos. "Eles estão em uma área segura em relação à posição do rio e até ontem nos informaram que tinham pequenas reservas de água", afirmou em nota Jorge Luiz de Paula, coordenador regional da Funai, que esteve na comunidade.
A enxurrada de lama teve início com o rompimento da barragem da Vale, na sexta-feira. No sábado, os rejeitos começaram a chegar ao rio Paraopeba, a poucos quilômetros das instalações, segundo porta-vozes de governos municipais da região. Nesta segunda-feira, a Funai levou doações à comunidade indígena, que com a poluição do rio ficou privada de água potável e de pescar, o que também ameaça sua alimentação. "Estamos em uma situação muito séria (...). Dependíamos do rio e o rio morreu. Não sabemos o que fazer", disse o cacique Háyó.
A Secretaria do Meio Ambiente informou que está preparando um informe sobre a situação do rio Paraopeba.
"É muito preocupante, a gente viu o avanço da lama tóxica, a perspectiva é que ela avance 220 kms até a barragem [da usina hidrelétrica] de Retiro Baixo, onde se diz que esses rejeitos podem ser contidos", disse à AFP Marcelo Laterman, geógrafo e porta-voz da campanha Clima e Energia do Greenpeace.
Ao chegar ao complexo de Córrego do Feijão, "vimos o impacto no leito do rio, que estava completamente destruído, assim como as áreas de vegetação", acrescentou.