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Dois amigos de Brumadinho se unem aos bombeiros nas buscas por corpos

Moradores da cidade se uniram aos bombeiros para ajudar no que fosse preciso. O último balanço, no quinto dia desde o rompimento da barragem, confirmou 84 mortos, 42 corpos identificados e 276 desaparecidos

João Vitor Marques/Estado de Minas
postado em 30/01/2019 06:00
Equipe de buscas descobriu e resgatou ontem alguns corpos que deveriam estar no refeitório da mineradora na hora do rompimento da barragem
O sol ainda não raiou quando Laudinei Pessoa e Mateus de Morais Leal Parreiras, de 29 anos, levantam da cama. Às 5h, os dois acordam exaustos depois de pouco tempo de sono e começam a se preparar para mais um dia de cansaço físico e emocional. As próximas horas serão de trabalho e apreensão em meio à devastadora lama que tomou conta de regiões próximas à barragem que se rompeu em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Laudinei e Mateus não são bombeiros. Devastados por não saberem dos amigos que estavam na Vale no momento da tragédia da última sexta-feira, eles abandonaram a rotina e deixaram os respectivos trabalhos com um objetivo: ajudar voluntariamente nas buscas por desaparecidos. ;Estamos aqui por causa de amigos nossos que cresceram com a gente. Todos os amigos que nós perdemos estavam trabalhando na Vale. Amigos e conhecidos da cidade. A gente queria achar o pessoal com vida, mas estamos achando muitos corpos. Pelo menos isso dá uma satisfação à família;, lamenta Mateus.

Laudinei fraturou o dedinho do pé esquerdo e, por isso, conseguiu atestado médico válido por 15 dias. Mesmo enfaixado, o voluntário veste as botas durante todo o dia de buscas. O abatimento fez com que Mateus pedisse liberação da empresa em que trabalha como mecânico para ajudar nas buscas. ;Falei na empresa que tenho que estar na cidade para ajudar o pessoal;, disse.

Amigos de infância, os dois deixam a zona urbana de Brumadinho às 6h todos os dias desde o último sábado. O caminho não é nada simples. Em um intervalo de aproximadamente duas horas, eles percorrem a pé impressionantes 20 quilômetros até a ;área quente;, região onde as buscas por desaparecidos se intensifica na Mina do Córrego do Feijão. No caminho, passam pela linha férrea que cruza o local e andam às margens da lama em busca dos desaparecidos. Assim que chegam, juntam-se aos bombeiros.

;O Corpo de Bombeiros tem sido bem amigo. Reconheceu que estamos aqui para ajudar. Eles nos dão almoço, lanche, água, o que a gente precisa. Estamos sofrendo juntos, porque é um trabalho bastante sofrido. Estamos aqui com o coração, que dói, sabendo que tem pessoas sofrendo sem saber se vão encontrar o ente querido para fazer o enterro, ter aquele descanso; conta Laudinei.

Em conversas informais com a reportagem, bombeiros admitem que por Laudinei e Mateus conhecerem bem a região tem auxiliado bastante nas buscas e até mesmo na retirada dos corpos da lama. Até ontem, os dois haviam ajudado a encontrar cinco vítimas.

Buscas

O resgate ;oficial; ganhou novos capítulos. A última parcial divulgada confirmava 84 mortes, com 42 vítimas identificadas. O número aumentou durante as buscas de ontem. Havia também 276 pessoas desaparecidas. Desde o início da manhã do quinto dia de buscas, o Corpo de Bombeiros, com auxílio de helicópteros, retirou vítimas das regiões mais afetadas pela lama.

Segundo o porta-voz da corporação, o tenente Pedro Aihara, a maioria dos corpos encontrados deve ser, provavelmente, de pessoas que estavam no refeitório da Vale no momento do rompimento da barragem. Ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros, o restaurante foi arrastado pela lama por uma distância entre 800 metros e um quilômetro. A maioria das vítimas está nessa região, segundo a corporação. A Vale informou que cerca de 600 funcionários estavam no refeitório e no prédio administrativo quando a barragem se rompeu. As buscas na região onde está um ônibus também continuaram.

Em algumas regiões, a lama está mais seca. Segundo bombeiros, isso facilita o deslocamento, mas, em alguns casos, pode dificultar a identificação de corpos. Auxiliadas por equipamentos militares israelenses, as equipes brasileiras também contam com um aspecto intuitivo nas buscas: o cheiro, que indica áreas onde podem ser encontradas vítimas.

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