Brasil

Sucateados, 32% dos municípios brasileiros não têm equipes de defesa civil

Em muitos locais o serviço sequer existe. Especialistas alertam para riscos de falhas em socorros cem tragédias como a de Brumadinho

Otávio Augusto
postado em 30/01/2019 19:44
A falta de estrutura como viaturas, equipamentos e até de profissionais é criticada por entidades que monitoram o setor
Faltam viaturas, equipamentos e até servidores para atender a população em casos emergenciais, como resgates e operações em áreas de risco. O sucateamento de parcela das defesas civis pelo país preocupa os agentes que têm a missão de agir em situações extremas, como nos atendimentos das vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Para se ter dimensão do abandono, 32% dos municípios brasileiros não sabem informar ou não contam com esse tipo de trabalho de socorro, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM).

Um dos principais desafios é manter as defesas civis em funcionamento. Os gastos com o setor representam menos de 1% do orçamento geral de municípios, estados e União. Segundo a CNM, 1.640 cidades não informaram se contam com o serviço. Outras 138 admitiram não ter, enquanto 3.792 disseram assegurar esse tipo de amparo. A cidade mineira de Araxá, distante 350km de Brumadinho, por exemplo, só estruturou a atividade há dois anos.

Falhas recorrentes

Para especialistas, o Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec) brasileiro não consegue cumprir com eficiência dois pontos básicos: a prevenção e o alerta. O governo falha em ausência de mapas detalhados das áreas de risco, esclarecimento e treinamento da população e rede de alertas preventivos. Em Brumadinho, as sirenes não tocaram quando a barragem rompeu.

Johnny Amorim Liberato, técnico em Proteção e Defesa Civil da CNM, explica que em muitas cidades onde a Defesa Civil existe, há poucas condições de desenvolver planos estratégicos de prevenção e ação em casos de desastres. ;Muitas, para conseguir manter o serviço atuante, precisam recorrer ao voluntariado. Os municípios sequer conseguem comprar viaturas ou orientar os profissionais. É importante manter as defesas civis preparadas e em funcionamento para que tragédias como a de Mariana e de Brumadinho não ocorram mais;, critica.

Para o presidente da Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí, Adriano Cunha, é preciso mais integração entre os governos. Ele atua na Defesa Civil na região de vales e montanhas em Santa Catarina. ;Não existe articulação da União com os estados e com os municípios. Isso dificulta algumas ações e a melhoria das situações que não são adequadas. Muitos municípios têm estrutura adequada, mas sabemos de realidades que não são ideais;, frisa.

Ele explica que, nos últimos anos, houve investimentos na área, mas que é necessário que a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil deixe de agir somente depois da tragédia. ;No Brasil, a Defesa Civil é encarada como uma força de ação reativa, nunca como preventiva. O essencial é se antever o problema para não perder vidas e ter prejuízos incalculáveis para as cidades e para as pessoas;, destaca.

Falta integração

Malu Costa, diretora do Sindicato dos Agentes de Proteção e de Defesa Civil do Ceará, diz que o sucateamento prejudica ações emergenciais. ;Não se tem planejamento. Em casos de calamidade de grandes proporções, como em Minas Gerais, não estamos preparados para socorrer a população, sequer se tem monitoramento de áreas de risco;, ressalta.

Nesta semana, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, liberou R$ 14 milhões para ações de defesa civil em Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Pará. O recurso será utilizado em obras emergenciais de atendimento à população afetada por inundações, fornecimento de água potável e reconstrução de áreas danificadas.

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