O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, determinou a liberação de R$ 192 milhões para hospitais e clínicas de Minas ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). O recurso extra será usado para tentar reduzir a crise da saúde que o Estado enfrenta, agravada com o rompimento da barragem em Brumadinho. Mandetta deverá visitar a região afetada pelo acidente nesta quinta-feira (31/1), quando será realizada a missa de sétimo dia da primeira vítima identificada, a médica Marcelle Porto Cangussu.
[SAIBAMAIS]Os recursos serão repassados para Minas a partir de fevereiro. Pelo cronograma, serão enviados para instituições que prestam serviços ao SUS e que atualmente não têm contrapartida do governo federal R$ 16 milhões mensais. Mas, diante da crise, instituições deverão receber R$ 64 milhões, o que equivale a quatro meses de pagamento.
Mandetta também determinou que sua equipe estude mecanismos para repassar recursos diretamente para Brumadinho, a cidade atingida pelo rompimento da barragem, ocorrido na última sexta. Não está definido ainda os valores ou como isso será colocado em prática. Diante da crise financeira do Estado, parte dos repasses para saúde acaba sendo bloqueada pela Justiça para pagamento de credores. Embora integrantes do ministério sustentem que a prática não é permitida, eles julgam mais prudente encontrar novas formas de repasse, para evitar batalhas judiciais.
Nessa estratégia, o Ministério da Saúde doou nos últimos dias duas caminhonetes para serem usadas nos serviços de busca das vítimas. A pasta também deverá adquirir medicamentos para fornecer aos serviços mineiros. Por causa da crise financeira, fornecedores não participam de licitações para compra de medicamentos e produtos de saúde. A ideia do ministério é fazer aquisições por meio de hospitais federais e transferir remédios e outros produtos para as instituições mineiras.
A situação do Estado foi discutida na tarde desta terça numa audiência entre Mandetta e o secretário de Saúde de Minas, José Farah Júnior. Ao contrário do que ocorreu na tragédia de Mariana, em que as demandas de saúde foram imediatas, a expectativa é de que o aumento dos atendimentos no SUS ocorra a médio prazo. Nesse primeiro momento, a ação está voltada para o resgate das vítimas do acidente.
"Em Mariana, tivemos muitos desabrigados, pessoas acidentadas que demandavam atendimento imediato. A lógica da assistência em Brumadinho é outra, porque o número de óbitos é expressivamente maior", afirmou o assessor estratégico da Secretaria de Saúde de Minas, Bernardo Ramos.
Equipes vão percorrer 100% das casas de Brumadinho em busca de familiares ou pessoas próximas das vítimas da barragem para fazer um cadastro e oferecer atendimento de saúde mental. "Nossa estimativa é de que seja alto o porcentual de pessoas que tenha um tio, um amigo de trabalho, um colega de colégio envolvido no acidente", disse Ramos.
Em Mariana, cerca de 80% das vítimas do acidente apresentaram stress pós traumático, outros 40% depressão e 40% de transtorno de ansiedade. "Imaginamos que os números sejam ainda muito mais expressivos. O óbito é chocante, não tem preço, não há como corrigir", disse Ramos. Há, ainda, o grande risco de parte das vítimas não tenha o corpo identificado. "Estamos trabalhando para que isso não ocorra. Mas há o risco do luto em caixão vazio, o que pode aumentar a dor", completou Ramos.
A preocupação não se restringe à saúde mental das pessoas próximas das vítimas. Equipes monitoram os reflexos do acidente no meio ambiente. Amostras do vazamento foram enviadas para o Laboratório Central de Saúde Pública de Minas. "Embora a empresa tenha dito que o material não é tóxico, precisamos saber ao certo qual sua composição", contou Ramos.
Nesse momento, a população da região afetada - que compreende 18 cidades - recebeu a recomendação de não ingerir peixes da região. Há também uma preocupação com o uso de poços artesianos. Como não se sabe se o lençol freático foi atingido, a recomendação é de que somente seja usada água da rede de abastecimento.
Além da contaminação pela lama, autoridades sanitárias avaliam também o risco de que, com passar dos dias, massa orgânica em decomposição possa se acumular e afetar as áreas mais próximas. "Essa contaminação não tem grandes dispersão, geralmente ela fica restrita ao local da decomposição."