Márcia Maria Cruz/Estado de Minas
postado em 30/01/2019 20:56
Sobreviventes de Brumadinho contaram os horrores que viveram nos minutos que seguiram ao rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão no dia 25. Na tarde de quarta (30/1), ainda abalados pelo o que testemunharam, eles prestaram depoimento na Delegacia Especializada em Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente (DEMA), no Bairro Lourdes, na Região Centro-sul.
;A gente ia fazer o serviço acompanhando dos terceirizados. Mas antes mesmo de a gente começar, eu ouvi um estrondo. Pensei que fosse trem que tivesse descarrilado, mas, quando cheguei para avistar, vi a lama. Eu e um colega meu tentamos fugir, mas não deu tempo. Corre prá lá, corre pra cá, a lama cercou e jogou a caminhonete para cima;, recorda-se o operador mantenedor e saneamento da Vale Elias de Jesus Nunes.
Vestido camisa em que a estampada com a palavra ;life;, vida em inglês, Elias estava muito abatido, mas com certeza de que testemunhou um milagre. A força da lama descarrilou os vagões do trem da Vale. Alguns ficaram retorcidos, mas o carro onde estavam não sofreu avarias. Da forma como a caminhonete foi levada pela lama, ele não duvida das mãos de Deus, que o salvou e o colega Sebastião. ;A lama misturada com terra pegou a caminhonete por baixo e a levantou;, completou.
Elias e Sebastião ficaram ilhados. Com a lama por todos os lados, eles tiveram que ser resgatados pelo helicóptero do Corpo de bombeiros. Apesar do susto, ele disse que não passava pela cabeça a possibilidade de a barragem se romper. ;A barragem não apresentava rachadura, problema. Nada. Estava num lugar que era meu trajeto de rotina, onde passava todos os dias;, disse. Do barulho do rompimento à chegada da lama foram cerca de seis minutos, segundo ele. ;Quando ouvi o barulho, a barragem já tinha rompido;, disse.
Outro sobrevivente, o operador de máquinas da Vale William Isidoro de Jesus escapou por um triz da onda de rejeitos. ;Quando assustei, já tinha um monte de lama do meu lado. Deus me salvou. Por isso estou hoje aqui com vocês. Foi algo bem triste.; Ele afirmou que não soou nenhum alarme alertando do rompimento. ;Nos treinamentos, a orientação era que a sirene tocaria e a gente seguiria pelas rotas de fuga. Mas não teve aviso, não teve sirene. Estava na máquina trabalhando, quando vi a lama chegando perto de mim. Parecia cena de filme;, diz.
O inquérito instaurado pela DEMA tem objetivo de averiguar se houve crime e, caso a investigação chegue à conclusão da existência do crime, a Polícia Civil poderá indiciar os responsáveis. ;Estamos ouvindo as vítimas sobreviventes para entender a dinâmica dos fatos, saber onde estavam e o que estavam fazendo. Também vamos ouvir as famílias das vítimas falecidas;, informou o chefe da DEMA, o delegado Bruno Tasca Cabral.
William e Elias preferiram não falar sobre a responsabilidade da Vale em relação ao rompimento. Também não comentaram o anúncio da empresa repassar R$ 100 mil às famílias que tiveram parentes mortos pela lama de rejeitos.