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Vale e outras grandes mineradoras planejam encerrar atividades em barragens

Grandes mineradoras, como Mineração Usiminas, Gerdau, ArcelorMittal e CSN, executam planos para desativação de reservatórios de rejeitos em Minas Gerais. Vale decide descontinuar 10 construídas no modelo a montante

Marta Vieira - Especial para o Correio, Lucas Negrisoli*/Estado de Minas
postado em 31/01/2019 06:00
Empresas pretendem investir na substituição do modelo a montante pelo sistema de tratamento do material a seco

Grandes mineradoras de ferro com barragens convencionais, classificadas por órgãos fiscalizadores com o mesmo nível de risco dos reservatórios que romperam em Mariana e Brumadinho, estão investindo em desativá-las. Entre as cinco maiores empresas do setor que atuam em Minas Gerais, além da Vale, três trabalham para o fim do uso das barragens ; Mineração Usiminas, Grupo Gerdau e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ; e uma, o grupo ArcelorMittal, já encerrou as atividades do único reservatório que mantinha na chamada Serra Azul de Minas.

Só ontem, a Vale anunciou a decisão de descontinuar 10 barragens construídas no modelo a montante, o mais simples e mais barato, que consiste no alteamento para aumentar a capacidade de armazenamento dessas estruturas feito sobre os rejeitos da mineração. O perigo das barragens está por todo o estado. São 357 reservatórios erguidos para receber milhares de toneladas de rejeitos de variados bens minerais acumulados por anos, de acordo com cadastramento da Agência Nacional de Águas (ANA).

Alívio


São mais de 430 municípios mineradores no estado, de acordo com estimativas do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia. Os planos das mineradoras de se desfazer dos reservatórios de rejeitos envolvem, inclusive, medidas para aliviar a pressão sobre as barragens a jusante, nas quais a elevação do nível de capacidade de comportar resíduos de minério é feita em apenas um nível e considerada menos danosa.

Para se livrar do risco das barragens, as empresas adotam, na exploração das minas, o chamado sistema de tratamento do material a seco, que consiste no empilhamento dos rejeitos, quase na forma de pó, sistema melhor controlado e que elimina a possibilidade de rompimento e vazamento. Apesar de menos perigoso, pode contaminar o meio ambiente quando sujeito a ventos fortes e tempestades, se dispostas próximo a mananciais de água.

Filtragem


A Mineração Usiminas desativou duas barragens em Itatiaiuçú e pretende encerrar o reservatório que mantém em funcionamento na mesma cidade, no modelo a jusante com dique de argila compactada. A empresa pediu, em junho do ano passado, a licença ambiental para implantar sistema de filtragem com empilhamento de rejeitos a seco, orçado em R$ 140 milhões.

O grupo siderúrgico Gerdau, por sua vez, desativou a Barragem Bocaina, de rejeitos de minério de ferro, em Ouro Preto e estuda a implantação de filtragem e empilhamento de rejeitos da Barragem dos Alemães, as duas estruturas construídas no modelo a montante. Mais quatro armações recebem águas pluviais e efluentes de drenagens das unidades de tratamento de minério e pilha de disposição de estéril, permitindo a sedimentação dos sólidos, antes de a água ser devolvida ao meio ambiente.

Fontes da CSN informaram que a siderúrgica está em processo de desativação, há cerca de dois anos, por meio de obras de drenagem, da Barragem de Fernandinho, em Congonhas, e paralisou os reservatórios do complexo de Pires, na divisa do município com Ouro Preto, que também serão descomissionados. Ao mesmo tempo, a empresa está investindo em sistemas para, a partir de meados deste ano, ter condição de reaproveitar todo o rejeito da Mineração Casa de Pedra e, assim, parar de pressionar a maior barragem da unidade, no modelo a jusante, que tem sido motivo de protestos da população e de multa aplicada por falta de adequação do reservatório.

* Estagiário sob a supervisão de Rozane Oliveira

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