Brasil

Luto atinge também os coveiros que, em breve, enterrarão conhecidos

Como praticamente todos em Brumadinho, eles têm ligação grande com as mineradoras

Paulo Galvão
postado em 31/01/2019 06:00
Profissionais têm que sepultar familiares e amigos que perderam na tragédia

Discretos, como convém à profissão, os coveiros de Brumadinho não são muito de expressar sentimentos. Porém, em conversas com a reportagem, mostraram a tristeza de saber que, em breve, vão enterrar amigos e vizinhos, além de conhecidos. ;Vocês não sabem a dor que estamos sentindo. Também perdemos gente querida, mas é nosso trabalho, e temos de passar por cima;, afirma João Batista Serafim Brandão, que não é funcionário do mais antigo cemitério da cidade, mas se voluntariou para ajudar nesse momento crítico.

Ontem, ele ajudava Atenagos Moreira de Jesus, que há 20 anos é o responsável por abrir e fechar túmulos em Brumadinho. Apesar de toda a experiência, o titular não escondia a tristeza com tudo o que ocorreu desde sexta-feira ; até ontem, havia sido confirmada a morte de 99 pessoas em decorrência da tragédia. ;A gente fica um pouco nervoso com todo este movimento, o barulho de helicópteros o dia todo buscando corpos. Tem hora que dá vontade de chorar, somos de carne e osso como todo mundo, mas temos de nos manter firmes e fortes;, disse Atenagos.

Como praticamente todos em Brumadinho, eles têm ligação grande com as mineradoras. João Batista trabalhou na própria Vale e chegou a ajudar a construir a barragem de rejeitos que se rompeu há sete dias. ;Nunca pensei que fosse acontecer uma coisa dessas. Que Deus conforte as famílias e que Brumadinho volte a ser uma cidade feliz, boa para se viver;, desejou o coveiro, que não perde as esperanças de que mais sobreviventes sejam resgatados.

Já o companheiro momentâneo de trabalho também torce por um milagre. Um primo e um amigo que estavam próximos da barragem no horário do rompimento conseguiram escapar ;por pura sorte;. Já alguns conhecidos continuam desaparecidos, com poucas chances de sobrevivência, segundo os próprios bombeiros. ;As pessoas têm de suportar, o sofrimento faz parte da vida;, disse Atenagos, resignado.

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