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Visão do Correio: Brasil sofre por tragédias evitáveis

O país já errou demais. Até quando vamos enterrar passivamente jovens como Arthur, Áthila, Bernardo, Christian, Vítor, Pablo, Jorge, Samuel, Gedson e Rykelmo? Até quando?

Correio Braziliense
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postado em 09/02/2019 11:15
O país já errou demais. Até quando vamos enterrar passivamente jovens como Arthur, Áthila, Bernardo, Christian, Vítor, Pablo, Jorge, Samuel, Gedson e Rykelmo? Até quando? O Brasil não para de ser surpreendido por tragédias. E a maioria delas, com certeza, poderia ser evitada se o Poder Público exercesse seu papel. A sucessão de desastres ocorre porque o Estado nunca se preocupou em prevenir, muito menos em fazer cumprir a lei. Nesta sexta-feira, o país acordou com a informação de que um incêndio, no Rio de Janeiro, havia matado 10 jovens de 14 a 16 anos e deixado outros três feridos, um deles em estado grave. Descobriu-se, depois de perdidas vidas de meninos que tinham um futuro promissor pela frente, que a área onde ficava o alojamento que pegou fogo, no Centro de Treinamento do Flamengo, estava descrita como ;estacionamento;, segundo a Prefeitura do Rio. Era um puxadinho, nunca fiscalizado.

O Corpo de Bombeiros do Rio reconheceu que o Centro de Treinamento também não tinha o Certificado de Aprovação (CA), documento que atesta que a instalação está de acordo com a legislação vigente no que diz respeito a dispositivos contra incêndio. Mesmo funcionando normalmente, acolhendo sonhos de muitos meninos de transformarem a vida deles e as de suas famílias, o local estava fora da lei como muitos empreendimentos que funcionam Brasil afora, protegidos por uma rede de corrupção de fiscais que só estão preocupados em encher os bolsos com dinheiro de propina.

Esse mesmo descaso fez com que pelo menos 300 pessoas morressem em Brumadinho, há duas semanas, ao serem engolidas por um mar de lama expelido pelo rompimento de uma barragem da mineradora Vale. A empresa foi alertada dias antes do perigo de os rejeitos vazarem e engolirem o que estivesse pela frente. Mas preferiu descartar os avisos, apostando em um relatório de uma empresa alemã que, se suspeita, tenha sido fraudado. Em nenhum momento, a barragem da Vale passou por vistoria do Poder Público. Tanto a União quanto o governo de Minas Gerais mantiveram os olhos fechados. Isso, mesmo três anos antes, uma outra mina ter provocado o desastre em Mariana, com várias mortes e sérios danos ao meio ambiente.

Um dia antes do incêndio que matou 10 jovens no CT do Flamengo, o município do Rio havia sido tragado por chuvas. Seis pessoas perderam a vida. O caos que se instalou na cidade evidenciou o descalabro da administração pública. O Rio é o mais claro retrato da degradação do país, que está enterrando um morto atrás do outro, seja por desastres que poderiam ser evitados, seja pela violência desenfreada. O município e o estado do Rio estão falidos. Vários governadores estão ou foram presos, assim como integrantes do Legislativo e do Tribunal de Contas, cuja missão é fiscalizar e punir os erros. Não é possível mais conviver com esse antro de corrupção.

Os governantes precisam entender que a população não aceita mais esse quadro de horror. Os eleitores devem se conscientizar de que as escolhas que fazem vão guiar seus destinos. Não podem, portanto, acreditar em promessas de facilidades, quando se sabe que os problemas do Brasil são complexos demais e, para resolvê-los, é preciso recorrer a pessoas comprometidas com a ética. O país já errou demais. Até quando vamos enterrar passivamente jovens como Arthur, Áthila, Bernardo, Christian, Vítor, Pablo, Jorge, Samuel, Gedson e Rykelmo? Até quando?

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