Ana Dubeux
postado em 10/02/2019 15:15
Nascemos fortes. Rompemos a barreira do ventre materno, fazendo uma travessia que nos conduzirá a um novo mundo, a uma vida cheia de possibilidades, a uma sucessão de desafios. Andar, falar, crescer, amar, trabalhar, constituir família, desbravar o mundo. Somos preparados desde cedo para viver e cumprir nossa jornada neste plano com intensidade e alegria. Este é o caminho natural do ser humano: construir sonhos e trabalhar para realizá-los.Enterrar 10 adolescentes, que sonhavam tirar dos gramados de futebol uma vida digna para si e para suas famílias, é mais um capítulo que eu e você gostaríamos de saltar nesse livro de tragédias diárias que o Brasil insiste em escrever. Uma tristeza sem medida. A insistência em produzir desastres vem de uma cultura de negligência, de omissão, de falta de fiscalização e de impunidade. Uma prática sem fim.
O incêndio no centro de treinamento do Flamengo e o mar de lama que devastou Brumadinho são apenas dois exemplos, entre tantos de maior ou menor porte, de como a falta de prevenção e o desleixo estão aniquilando o que há de mais precioso: a vida humana. Estar vivo é uma bênção, uma vitória da natureza, um privilégio. Mas permanecer vivo no Brasil virou um golpe de sorte.
Se conseguir sobreviver à insegurança, à desigualdade, ao racismo, os brasileiros podem sucumbir a desmoronamentos, vendavais, incêndios e tantas outras tragédias que seriam evitadas com medidas que todos conhecem. Cumprir regras básicas para garantir a segurança, a integridade física e a dignidade da população é uma obrigação do Estado. Não fazer isso é atentar contra a humanidade. É, portanto, crime.
Ou aprendemos a respeitar as leis, a exigir fiscalização, a ter seriedade, a exercer a cidadania ou seremos sempre vítimas de um poder público que há muito virou as costas para a população. Essa é a nossa verdade, a mais triste e tenebrosa verdade.