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MP acusa oito pessoas de omissão no rompimento da barragem de Brumadinho

Ministério Público afirma que os problemas na estrutura da barragem que se rompeu eram conhecidos da Vale e aponta omissão por parte da empresa. Em ações em Minas, no Rio de Janeiro e em São Paulo, oito funcionários da mineradora são presos

Renato Souza
postado em 16/02/2019 07:00
Funcionário é detido: presos teriam envolvimento na emissão de relatórios e no planejamento de segurança da barreira que se rompeu

Em mais uma operação policial relacionada ao rompimento da Barragem 1 da Vale, oito funcionários da empresa foram presos, acusados de envolvimento na emissão dos relatórios e no planejamento de ações de segurança do empreendimento que entrou em colapso na região de Brumadinho (MG). De acordo com o Ministério Público, existem provas suficientes de que funcionários sabiam do desastre e, mesmo sob diversos avisos, ;ficaram inertes; diante do risco. Na decisão que autoriza o cumprimento dos mandados, o juiz Rodrigo Heleno Chaves destaca declarações de empregados da mineradora ressaltando que a situação de instabilidade era conhecida havia meses.

Foram cumpridos, em Minas Gerais, 14 mandados de busca e apreensão e oito de prisões temporárias (válidas por 30 dias), o que revela que as detenções estão fundamentadas na lei que trata dos crimes hediondos. As ações também ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na decisão, o magistrado afirma que os presos ;tinham pleno conhecimento da situação de instabilidade da barragem B1;, na Mina do Córrego do Feijão. Ele cita o depoimento do funcionário Luciano Henrique Barbosa Coelho, filho de Olavo Henrique, empregado que atuou durante 35 anos na Mina.

De acordo com o depoimento de Luciano, prestado ao Ministério Público, o pai dele relatou que foi procurado ;há uns sete ou oito meses; para avaliar um vazamento de lama na barragem. Ele disse que orientou os responsáveis, inclusive os presos na ação de ontem, a ;retirar todo mundo de lá;, pois a estrutura estava comprometida e nada poderia ser feito para recuperá-la. No entanto, de acordo com o Ministério Público, os procedimentos não foram realizados, o que resultou na tragédia humana que se abateu sobre a região.

;Os chefes, técnicos e gerentes presentes disseram que não poderiam tirar o pessoal de lá porque é muita gente envolvida e empregos, dizendo que iam contratar empresa especializada de urgência para consertar a Barragem I;, contou Luciano. O pai dele morreu no desastre. Ele não tinha formação técnica na área, mas, por conta da experiência com a estrutura, sempre era chamado para avaliar os problemas.


Pressão

Entre os presos está Alexandre de Paula Campanha, um dos gerentes da mineradora. Ele foi citado por engenheiros da empresa T;V S;D ; que tinham sido presos em 29 de janeiro ;, contratados pela Vale para emitir laudos atestando a segurança da barragem. Campanha teria pressionado os engenheiros a assinar o documento, ameaçando que, caso não o fizessem, perderiam o contrato.

O delegado Bruno Tasca, chefe do Dema, destaca que os presos vão responder por perdas naturais e humanas em decorrência do desastre. ;Eles podem responder por crimes ambientais e homicídios qualificados, porque não houve possibilidade de defesa das vítimas, já que a lama veio daquela forma;, afirmou.

Em nota, a Vale considerou ;as prisões desnecessárias porque os funcionários já haviam prestado depoimento de forma espontânea e sempre estiveram disponíveis para esclarecimentos às autoridades;. A mineradora afirmou ainda que seguirá ;contribuindo com as investigações;.

Funcionários detidos


; Alexandre de Paula Campanha
Gerente executivo da Geotécnia Corporativa da Vale

; Artur Bastos Ribeiro
Integrante da Gerência de Geotécnia

; Renzo Albieri Guimarães Carvalho
Integrante da Gerência de Geotécnia

; Cristina Heloíza da Silva Malheiros
Integrante da Gerência de Geotécnia

; Felipe Figueiredo Rocha
Integrante do setor de Gestão de Riscos Geotécnicos

; Hélio Márcio Lopes da Cerqueira
Integrante do setor de Gestão de Riscos Geotécnicos

; Joaquim Pedro de Toledo
Gerente executivo da Geotécnia Operacional da Vale

; Marilene Christina O. Lopes de Assis Araújo
Integrante do setor de Gestão de Riscos Geométricos

Só segmentos de corpos

Bombeiros localizaram ontem dois corpos incompletos durante buscas em Brumadinho. O número oficial de mortos, porém, se mantém em 166, e o de desaparecidos, caiu para 144. As informações foram repassadas em coletiva de imprensa ontem. Todos os corpos localizados até agora foram identificados. Entretanto, essa quantidade pode aumentar nos próximos dias. Isso porque o IML recebeu 302 segmentos de corpos. Desses, três já foram comprovados de que não eram humanos e excluídos da contabilização.

Cento e cinquenta corpos foram identificados por papiloscopia (impressões digitais), 13 por exames odontolegal e dois por cicatrizes, tatuagens, sinais profissionais, mutilações. Ontem, o primeiro corpo identificado por DNA foi liberado. ;A identificação por meio dele é mais complexa, demora mais tempo que os demais;, explicou o delegado da Polícia Civil Arlen Bahia.

O tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros, afirmou que não há previsão de término das buscas. ;Enquanto houver a possibilidade de resgate de corpos, vamos continuar as buscas;, disse.


100 casas vistoriadas


Cerca de 100 casas atingidas pela lama da barragem de Brumadinho foram vistoriadas pela Defesa Civil até ontem. Com isso, aumenta a expectativa do retorno das pessoas às suas residências. De acordo com o tenente-coronel e porta-voz do órgão, Flávio Godinho, 45 laudos já foram emitidos e devem ser entregues nos próximos dias. ;A expectativa é de que algumas pessoas possam voltar para suas casas. Outras ainda devem permanecer nos hotéis;, afirmou.

A Caixa Econômica Federal anunciou a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores que tiveram as casas afetadas. Atualmente, a Lei n; 8.036/1990, que trata do FGTS, permite que os beneficiários movimentem suas contas em caso de ;necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorra de desastre natural;. Desde o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), em 2015, esse tipo de tragédia passou a ser equiparado a desastre natural para que as vítimas pudessem movimentar esses recursos.

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