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Relatório aponta que rio atingido pela lama de Brumadinho não sustenta vida

Levantamento da ONG SOS Mata Atlântica leva em conta desmatamento florestal e 22 pontos em 305km do rio Paraobeba. Estudo feito durante expedição ficou pronto um mês após tragédia em mineradora da Vale

Luiz Calcagno
postado em 27/02/2019 12:04

Além das mortes, danos provocados pelo rompimento da Mina Córrego do Feijão, da Vale do Rio Doce, degradaram rio e florestas da região

Um total de 122 hectares de florestas nativas devastados, área equivalente a 122 campos de futebol, desses, 55ha de áreas bem preservadas, além de um manancial sem condições de suportar a vida aquática. Esse é o resultado da Expedição Paraobeba, da organização não governamental (ONG) SOS Mata Atlântica. Biólogos percorreram um trecho de 305km do Rio Paraobeba, atingido pela lama tóxica que vazou da barragem da Vale, em Brumadinho (MG).

O relatório da entidade, concluso um mês após a tragédia, indica que a recuperação do curso d;água é de difícil previsão, e a água traz riscos à saúde das comunidades abastecidas pelo manancial. A expedição analisou 22 pontos do rio e percorreu, ainda, 2.000km de estradas em 21 cidades para levantar dados independentes sobre a qualidade dos recursos hídricos na região e o dano na cobertura florestal nativa da Mata Atlântica mineira.

[SAIBAMAIS]Dos 22 pontos do Paraobeba analisados, 10 apresentaram resultado ruim e 12, péssimo. Estudiosos encontraram grandes quantidades de metais pesados. Em alguns pontos do manancial, por exemplo, a concentração de cobre é de mais de 4mg/l, mais de 444 vezes a concentração máxima permitida no manancial, que é de 0,009mg/l. A intoxicação por cobre pode provocar náuseas e vômitos.

A concentração de manganês, por sua vez, está 30 vezes acima do permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). As medições indicaram 3mg/l, enquanto o considerado tolerável para o Paraobeba é de 0,1mg/l. A contaminação pelo metal pode provocar sintomas como rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza. Em diversos pontos, o ferro esteve acima de 6 mg/L.

A alta concentração de ferro e manganês ajudam a explicar, ainda, a coloração avermelhada que o curso d;água ganhou após a tragédia. Especialista em recursos hídricos da ONG, Malu Ribeiro destaca que o Paraobeba perdeu a condição de importante manancial de abastecimento público e usos múltiplos da água. ;O dano ambiental sem parâmetros no país e no mundo, tornou aquelas águas impróprias e indisponíveis para o uso por onde passamos;, destacou.

Mesmo nos pontos em que o rio tem oxigênio diluído o suficiente para suportar vida, nos trechos entre os municípios de Pompéu e Curvelo, a quantidade de metais pesados está acima dos limites legais para o Paraobeba. Com o levantamento, a ONG espera subsidiar autoridades e a sociedade para tornar mais precisa a determinação de medidas e ações socioambientais de recuperação e ressarcimento dos danos.

Ainda segundo o estudo, a restauração florestal de toda a região será fundamental para a recuperação da qualidade da água e dos ecossistemas ao longo de todo o Paraobeba. A barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale do Rio Doce, em Brumadinho, se rompeu em 25 de janeiro. A tragédia contabiliza, 179 mortos e 131 desaparecidos.

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