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Estudo da ONG Mata Atlântica aponta para a morte do Rio Paraopeba

No mesmo dia em que o STJ manda libertar oito funcionários da Vale, ONG apresenta relatório mostrando que a lama tóxica eliminou todas as formas de vida em trecho do Rio Paraopeba

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 28/02/2019 06:00
Pelo relatório, o trecho do rio que vai de Brumadinho a São Joaquim de Bicas está tão contaminado que não tem condições de suportar a vida aquáticaA soltura de oito dos funcionários da Vale, presos em 15 de fevereiro como parte das investigações do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), ocorreu no mesmo dia em que a ONG SOS Mata Atlântica apresentou relatório sobre os danos ambientais da tragédia. De acordo com o levantamento, a lama tóxica matou todas as formas de vida no trecho do Rio Paraopeba que vai de Brumadinho a São Joaquim de Bicas.

A liberação dos investigados ocorreu por determinação do ministro Nefi Cordeiro, segundo a própria assessoria do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Foram libertados Joaquim Pedro de Toledo, Renzo Carvalho, Cristina Heloíza Malheiros, Artur Ribeiro, Alexandre Campanha, Marilene Christina Araújo, Hélio Márcio Cerqueira e Felipe Rocha.

Na decisão, Cordeiro entendeu que a prisão temporária exige a indicação de riscos à investigação de crimes taxativamente graves, enquanto os funcionários da Vale colaboraram com a apuração. ;Não há risco concreto à investigação, não há risco concreto de reiteração, não há riscos ao processo;, concluiu o ministro.

Ainda de acordo com a assessoria do tribunal, a liminar do ministro vale até o julgamento do habeas corpus no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. As prisões ocorreram porque o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) concluiu que o grupo sabia previamente dos problemas na barragem. ;Houve conluio de forma que fosse escondido do poder público a situação real da barragem. Funcionários participaram ativamente para dissimular a situação;, disse William Coelho, promotor da área criminal da força-tarefa que apura a tragédia.

Contaminação

De acordo com o relatório da SOS Mata Atlântica, além da contaminação no Rio Paraopeba, os rejeitos devastaram um total de 122 hectares de florestas nativas, área equivalente a 122 campos de futebol ; desses, 55 hectares eram de áreas bem preservadas.

A bióloga Marta Marcondes, pesquisadora do laboratório de análise ambiental da Universidade de São Caetano do Sul (SP), participou da expedição, que percorreu 2.000km de estradas e 305km do manancial. ;Fizemos coleta de água rasa e profunda em 22 pontos. Desses, 12 tinham índice de qualidade de água péssimo e 10, ruim. Ou seja, a água, da forma como ela está, é imprópria para consumo humano. Não pode ter captação. Também é imprópria para animais e para pesca. As pessoas têm de ser alertadas;, afirmou.

Tiago Felix, biólogo e mobilizador do projeto Observando Rios da ONG, concordou. ;Percebemos é que a alta turbidez provocada pelos rejeitos, a baixa oxigenação e o alto nível de fosfato e nitrato e metais pesados decretam a morte desse rio;, disse, sobre o trecho que vai até São Joaquim de Bicas.

Em alguns pontos do Paraopeba, a concentração de cobre é superior a 4mg/l, mais de 444 vezes a concentração máxima permitida no manancial. A intoxicação por cobre pode provocar náuseas e vômitos. A concentração de manganês, por sua vez, está 30 vezes acima do permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A contaminação pelo metal pode provocar rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza. Em diversos pontos, o ferro também esteve acima de 6mg/L.

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