Brasil

Opinião: Solte a voz, não solte a mão

A mão de outra mulher e o grito da sociedade contra o machismo e a violência de gênero são o apoio mais firme

Ana Dubeux
postado em 10/03/2019 11:00

A mão de outra mulher e o grito da sociedade contra o machismo e a violência de gênero são o apoio mais firme

Enquanto você lê essas linhas, há milhares de mulheres sendo agredidas, humilhadas, ofendidas e assassinadas no mundo. Sim, há uma guerra em curso. E a força do agressor é desproporcional. O homem tem ao seu dispor armas de incrível potencial destruidor. Entre elas, a proximidade, a confiança, os laços familiares. A maioria das vítimas tem como algoz o marido, o companheiro, o namorado, o pai, o irmão, o padrasto, o vizinho. O escudo delas? São as leis e uma ainda falha rede de proteção do Estado.

Por esse motivo, a mão de outra mulher e o grito da sociedade contra o machismo e a violência de gênero são o apoio mais firme. Não podemos negligenciar um pedido de socorro, não temos o direito de ficar em silêncio, não devemos perder um só minuto pensando se é legítimo agir ou se intrometer na vida de uma mulher que corre perigo ou é ameaçada. São tantas as vezes em que elas se calam por medo ou por uma condição de vulnerabilidade que não a permite pedir ajuda... Devemos estar atentas e fortes para ouvir e perceber até o mais silencioso sinal de que algo está errado.

No Dia Internacional da Mulher, não bastam flores, mensagens de parabéns, lindas homenagens. É preciso ter na memória que a luta e a resistência são sempre o foco. Há muito a ser feito. E as ações devem começar dentro de casa, na escola, na formação das crianças. Elas devem ser educadas e instruídas sobre cidadania, justiça social, respeito ao outro e igualdade de gêneros.

O Estado tem um papel fundamental nisso. Deve ser o grande propulsor da mudança e não um fomentador da violência de gênero. Ao ser omisso e deixar que tantas mulheres permaneçam numa condição eterna de vulnerabilidade, torna-se cúmplice de uma matança sem limites.

Folgo em ver e saber que há um exército de mulheres fortes abrindo caminho, gritando e protestando nas ruas contra selvagerias. Mas a trincheira é longa e rasa. Há um imenso caminho a percorrer, e elas precisam das instituições para transformar potenciais direitos em garantias reais. Enquanto isso não acontece, permanecemos no vácuo, abrindo a fórceps um espaço para sermos quem somos e vivermos seguras e plenas com nossas vontades e convicções. Não solte a mão de nenhuma outra mulher.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação