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Especialistas analisam possíveis motivações dos assassinos de Suzano

Especialistas analisam as motivações para atos violentos e destacam a necessidade de apoio psicológico a sobreviventes

Bruno Santa Rita - Especial para o Correio
postado em 14/03/2019 06:00

Escola Raul Brasil, em Suzano, São Paulo

Barbaridades como a cometida ontem, em Suzano (SP), que resultou na morte de 10 pessoas, costumam ser provocadas por traumas, como bullying e até desigualdade social, segundo psicólogos. Além disso, influências virtuais podem funcionar como um gatilho para a prática de atos violentos.

Áderson Costa, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), enumerou algumas das motivações que podem impulsionar ações como as de Suzano, como religião e traumas na infância. ;São razões que ultrapassam o limite da normalidade. É muito difícil apontar motivos que levam alguém a pegar uma arma ou utensílio de alta destruição sem conhecer a história de vida das pessoas em questão;, afirmou.

Do ponto de vista da segurança pública, casos como esse podem ser bem difíceis de se remediar. Para o consultor de segurança pública, coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva, uma tragédia ocorre devido a um conjunto de falhas. ;Um dos papéis da segurança pública é monitorar o acesso a armas de fogo;, disse. ;Quanto mais armas circulando, mesmo legalmente, elas acabam se tornando ilegais e caindo nas mãos de pessoas que tomam atitudes como essas;, criticou.

Especialistas analisam as motivações para atos violentos e destacam a necessidade de apoio psicológico a sobreviventes

Silva argumentou que seria impossível armar trabalhadores que circulam em escolas. ;São Paulo tem cerca de 20 mil escolas públicas. Imagina se cinco funcionários circulam com arma em cada escola. Isso corresponde a um efetivo maior do que a PM de São Paulo. E como treinar essas pessoas? Com tanta arma, bandidos e até alunos buscariam por elas;, argumentou.

Vítimas

Para as vítimas e pessoas que estavam no momento de um ataque, o trauma fica para sempre. Segundo Áderson Costa, os impactados, provavelmente, desenvolverão estresse pós-traumático. ;Transtornos que envolvem pânico em qualquer nível ficam impregnados no indivíduo durante muito tempo. Ele pode apresentar dificuldades em retornar ao ambiente em que aconteceu a situação, além de ser levado à instabilidade emocional. Isso pode gerar depressão extremamente grave;, ressaltou.

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Para identificar os problemas que podem vir após esse tipo de evento, é necessário estar atento às ações comuns do dia a dia. ;Qualquer comportamento que o indivíduo apresente diferente do normal, que ele perceba ou que outra pessoa note, pode ser um indício de trauma;, alertou Costa. De acordo com ele, nesses casos, a melhor opção é já procurar acompanhamento psicológico.

Para a pedagoga Jane Patrícia, é importante que existam profissionais disponíveis para escutar as crianças nas escolas antes e depois de casos como esse. ;Tem de levar profissionais para conversar com essas crianças, com professores e funcionários. Eles precisam falar sobre isso. Esse trauma é para o resto da vida, e a gente não sabe como essas pessoas vão reagir. Às vezes, a resposta é a própria violência;, reforçou.

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