Agência Estado
postado em 19/03/2019 07:36
Chuvas intensas e tempestades com raios já causaram 35 mortes este ano no Estado de São Paulo, conforme dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. A média é de quase uma vítima a cada dois dias. O número é 250% maior que no mesmo período de 2018, quando aconteceram 10 óbitos. Em 2017, haviam sido 19. As vítimas morreram arrastadas por enxurradas, soterradas pela queda de muros, casas e barrancos ou atingidas por raios (6 casos).
Apenas na Região Metropolitana de São Paulo, incluindo a capital, 13 pessoas morreram entre a noite do dia 10 deste mês e a manhã do dia 11, em consequência dos temporais. Naquela manhã, Lizandro Baptista de Rezende, de 44 anos, saiu de casa para tirar o carro da rua. A água estava subindo muito depressa e ele imaginou que poderia levar o veículo para uma região mais alta. Não foi possível. O carro foi arrastado e caiu no Córrego de Utinga, em Santo André, no ABC. Baptista morreu por afogamento.
Nesta segunda-feira, 18, uma semana depois da tragédia, a mulher dele, Pamela Tuane Souza Rezende, de 31 anos, ainda se sentia perdida e indignada pelo fato de nenhuma autoridade sequer ter ido à região para ver se a tragédia não poderia se repetir. Esta segunda-feira foi o primeiro dia em que ela pôde voltar para casa. A cozinha, que foi completamente inundada pelas chuvas, continuava desorganizada. "Estou tentando recomeçar pelas coisas práticas. Estou tentando arrumar a casa, pagar as contas que estavam com o Lizandro e retomar, aos poucos, a vida."
Em São Paulo, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a chuva acumulada até domingo (17) era de 839,8 milímetros, 48% a mais que em 2018, quando choveu 567 milímetros. O volume também está acima da média histórica, de 692,7 mm, e é o maior em 15 anos. As chuvas foram intensas em quase toda a região metropolitana, levando o governo paulista a já ter decretado situação de emergência em oito municípios: São Paulo, Mauá, São Caetano do Sul, Santo André, Diadema, Ribeirão Pires, São Bernardo do Campo e Rio Grande da Serra. Desde janeiro, 102 cidades mobilizaram a Defesa Civil, reportando danos causados por chuvas e temporais. Dessas, 42 pediram ajuda humanitária - em 2018, só 14 solicitaram. As prefeituras de Sumaré e Adamantina, decretaram situação de emergência, e a de São Simão, calamidade.
Em Salto, por exemplo, a área central da cidade ficou alagada três vezes este ano pelas enchentes no Rio Tietê. A sujeira invadiu o bar do comerciante Luiz Carlos Ganzano, de 55 anos, que teve de fechar o estabelecimento por dois dias para a limpeza. "Quando vejo o rio subindo, fecho as portas e vou embora, pois, se ficar, a gente corre o risco de ser levado pela correnteza."
Nesse período, registros das prefeituras dão conta de que ao menos 840 árvores caíram em praças e vias públicas, com danos materiais e interrupção no fornecimento de energia. As enxurradas danificaram o asfalto e abriram buracos em vias municipais e rodovias. Ao menos 12 estradas sofreram interdições. A Rodovia dos Tamoios e a Rio-Santos ficaram fechadas por mais de 24 horas. Na manhã desta segunda, um deslizamento bloqueou a Anchieta.
Causas
O meteorologista Marcelo Seluchi, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), observa que "o período chuvoso de 2018/19 não está sendo muito diferente dos anos anteriores em quantidade de chuva". "O problema é que elas estão mal distribuídas. Choveu pouco em algumas regiões, prova disso são os reservatórios do Sistema Cantareira, que não estão com muita água, e muito em outras. Este ano, as chuvas se concentraram mais na capital e no litoral."
Ele disse que outros fatores, como a vulnerabilidade de áreas de risco, onde as pessoas estão mais expostas, podem ter mais influência sobre o número de mortes. "Em Ubatuba, por exemplo, tivemos valores absurdos de chuva, coisa de quase 300 mm em dois dias, mas não houve sequer uma morte. Diferentemente do que aconteceu em São Paulo, onde choveu menos, mas há pessoas expostas."
Conforme o especialista, quando a chuva é concentrada em áreas mais urbanizadas, os alagamentos são maiores porque o asfalto impede a absorção da água. "Se os bueiros já não dão conta de uma chuva muito intensa, tem também o problema do lixo, que acaba entupindo tudo." Na Grande São Paulo, a ocupação de áreas de risco é agravante. "Choveu muito justamente nessas áreas, causando soterramentos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.