O governo de Minas Gerais e a Vale se manifestaram nesta quinta-feira, 28, sobre o avanço da lama da barragem que colapsou em Brumadinho há pouco mais de dois meses e disseram que ela ainda não chegou à Usina Hidrelétrica de Três Marias, localizada no Alto São Francisco.
Na semana passada, a Fundação SOS Mata Atlântica, a partir de uma análise independente do avanço dos rejeitos da barragem do Córrego do Feijão, fez um alerta de que os sedimentos que atingiram o Rio Paraopeba haviam chegado ao São Francisco. A ONG vinha acompanhando a contaminação desde o acidente e mostrou como aos poucos a lama estava matando o rio.
Em nota de esclarecimento, o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) disse que "não foram observadas alterações na qualidade das águas ou impacto sobre a biodiversidade que indiquem a extinção da vida no Rio Paraopeba ou a contaminação do reservatório de Três Marias pela pluma de rejeitos originados do rompimento da barragem B1 da Vale".
O órgão atribui a informação a uma nota técnica feita conjuntamente pelo Instituto Estadual de Florestas e pelo Ibama com base em análises feitas em 21 pontos da bacia pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), pela Agência Nacional de Águas (ANA), pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
Os pontos de coleta incluem os reservatórios das usinas de Retiro Baixo, ainda no Paraopeba, e Três Marias. "Os dados oficiais de qualidade de água não indicam a chegada do rejeito abaixo de Retiro Baixo, não sendo possível, no atual momento, afirmar sobre quando ou se o rejeito chegará no reservatório de Três Marias", diz o Sisema.
"Considerando ainda o tempo médio que a água leva para atravessar os reservatórios das duas usinas após chegar a eles, que é de 50 dias para Retiro Baixo e 365 dias para Três Marias, e de que o desastre ocorreu há cerca de 60 dias, não haveria tempo hábil para que os rejeitos tenham ultrapassados os reservatórios", continua a nota.
O documento rebate a análise da SOS Mata Atlântica, que apontou que o trecho a partir de Retiro Baixo, entre os municípios de Felixlândia e Pompéu, até Três Marias, está com água imprópria para usos da população.
Sobre a perda de biodiversidade, o Sisema disse que episódios de mortes de peixes relacionados ao desastre se concentraram no trecho mais impactado, de cerca de 44 km, entre a foz do córrego Ferro e Carvão (ponto em que os rejeitos atingiram o Paraopeba) e a barragem da usina termoelétrica em Juatuba.
"Mesmo no trecho mais afetado, peixes vivos, ovos e larvas viáveis têm sido coletados, indicando que, mesmo após o desastre, parte da ictiofauna continua na região. Entretanto, os espécimes que sobreviveram ainda estão sob condições inadequadas e poderão ter funções biológicas comprometidas, acarretando em mudanças comportamentais, redução de crescimento, redução da taxa reprodutiva e até mesmo morrerem", informa a nota.
O diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani Pires, ao participar de uma teleconferência para analistas sobre os resultados da companhia em 2018, também afirmou que a lama não chegou a Três Marias. Segundo ele, como o reservatório da usina é muito grande, nenhum rejeito deverá ser carreado para o rio São Francisco.
O diretor reconheceu que há metais pesados nos rejeitos, mas disse que a maior parte é composta por materiais da própria região. Os metais pesados estão encapsulados e mais de 90% dos testes mostram que não houver contaminação, com os limite de metais pesados abaixo dos níveis de segurança.