Renato Souza
postado em 08/04/2019 06:00
A desigualdade econômica entre muito ricos e muito pobres no Brasil mantém uma escalada que é conhecida a cada novo estudo sobre a pobreza em nosso país. A cada ano, o grupo de pessoas que vivem com até R$ 7,00 por dia, consideradas abaixo da linha da pobreza, ganha novos integrantes. De acordo com o Banco Mundial, 21% da população, ou 43 milhões de pessoas, estão nesta situação. O Brasil vai na contramão na adoção de políticas públicas para reduzir a desigualdade. Essa realidade já reflete na percepção que a população tem em relação às diferenças de renda. Um estudo divulgado nesta segunda-feira (8/4) pela Oxfam - ONG de combate a pobreza - aponta que 86% dos brasileiros acreditam que o Brasil não irá progredir sem corrigir este problema. O mesmo levantamento aponta que 94% da população acredita que os impostos pagos devem ser usados para beneficiar os mais pobres.
Outro dado que chama atenção na pesquisa é o de que 77% dos brasileiros afirmam que defendem o aumento de impostos para as pessoas muito ricas para financiar políticas sociais. Em 2017, data do último levantamento, esse grupo representava 71% dos entrevistados. Apesar dos dados, a população mantém o otimismo no futuro. 70% das pessoas acreditam que nos próximos cinco anos vão integrar a classe média ou classe média alta.
Para 53% dos entrevistados, são consideradas pobres, pessoas com renda mensal de R$ 701 até R$ 1.000, valores que englobam o atual salário mínimo, fixado em R$ 998 para este ano. E esses cidadãos não estão errados. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a renda mínima de um trabalhador para sustentar uma família de até quatro pessoas, em março deste ano, deveria ser de R$ 4.277,04. Mas o país está muito longe de garantir que os brasileiros tenham renda para colocar comida na mesa e suprir necessidades como acesso a saúde de qualidade, educação e segurança. Os fatores sociais que podem agravar ainda mais a situação das pessoas mais pobres são reconhecidas pela sociedade. 64% concordam que ser mulher impacta na renda, ante 57% há dois anos. 72% acreditam que a cor da pele tem influência na hora da contratação nas empresas e 81% diz que essa característica também pesa na decisão das autoridades policiais sobre quem vão abordar.
Entre as alternativas apontadas pelos entrevistados para reduzir o problema, a campeã de citações é o combate à corrupção. Em seguida aparece a necessidade de se investir em saúde pública, aumentar a oferta de emprego e elevar o investimento público em educação. O economista Evilásio Salvador, coordenador do programa de pós-graduação de política social da Universidade de Brasília (UnB), aponta que os mecanismos de redução das desigualdades vem reduzindo ao longo do tempo. ;A população mais pobre, como mulheres, negras e negros, têm dificuldade de acesso ao mercado de trabalho e as políticas públicas. A tributação incide mais sobre as pessoas mais pobres. O caminho certamente para reduzir é alterar a estrutura tributária. O Brasil trata de maneira bem desigual ricos e pobres;, disse.
Ele destaca que mudanças nas políticas públicas são fundamentais para combater as mazelas que atingem o país de Norte a Sul. ;Flexibilizar, desmontar a legislação trabalhista vai gerar mais desigualdade. É necessário uma política forte de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Temos que fazer uma reforma tributária que penalize menos os mais pobres e incida corretamente sobre os mais ricos. Temos muitas renúncias fiscais que atrapalham a arrecadação;, completa.