Brasil

Viúva afirma que militares debocharam após fuzilarem carro no RJ

Emocionada, ela diz que queria ter morrido ao lado do marido. Luciana Nogueira foi ao IML para liberar o corpo de Evaldo Rosa

Agência Brasil
postado em 08/04/2019 13:35
Viúva de Evaldo Santos Rosa,Luciana Nogueira, fala com a imprensa no IML
A família do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, foi, nesta segunda-feira (8/4), no final da manhã, ao Instituto Médico-Legal (IML), no centro do Rio de Janeiro, para liberar o corpo. Ele foi morto em uma operação do Exército, em Guadalupe, na zona oeste da cidade, na qual o carro em que estava foi atingido por mais de 80 tiros de fuzil.

[SAIBAMAIS]Em estado de choque, a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo, disse que a família passava pelo local onde houve a operação com frequência e que sentiu-se segura ao observar a presença do Exército.

;Por que o quartel fez isso? Eu disse, amor, calma, é o quartel. Ele só tinha levado um tiro, os vizinhos começaram a socorrer. Eu ia voltar, mas eles continuaram atirando, vieram com arma em punho. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: ;Moço, socorre meu esposo;. Eles não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e rindo.;

Emoção

Aos prantos, a viúva disse que preferia ter morrido ao lado do marido, com quem era casada há 27 anos. ;Eles me deixaram e mandaram eu correr. Eu tinha que ter ficado para morrer com ele, eu e meu filho;, disse. ;Ele [o marido] era meu melhor amigo. Meu filho estava no carro, eu dei calmante para ele, ele viu tudo;, afirmou a técnica de enfermagem, que disse ao filho que pai estava hospitalizado.

Luciana Nogueira informou que Evaldo era músico e trabalhou como vigilante, mas perdeu o emprego há dois anos. Débora dos Santos Araújo, irmã da técnica, disse que o filho do casal, de 7 anos, ainda não foi informado da morte do pai.

;A gente ainda não falou que ele morreu. O menino fica perguntando quando o pai vai sair do hospital. Ele está na casa do avô, do meu padrasto. Era filho único, tinha muito amor pelo pai;, ressaltou Débora Araújo.

Segundo Débora, houve uma tentativa de militares de fazer a perícia no local. ;Tem um vídeo mostrando que queriam colocar alguma coisa embaixo do meu cunhado;, disse. ;Nós exigimos que fosse a polícia. Isso foi [por volta das] duas horas, a polícia chegou às seis e pouco. Nós não deixamos eles fazerem porque eles podiam tentar fraudar.;

Ação

O carro em que estava a família foi atingido por mais de 80 tiros disparados pelos militares. Evaldo, a mulher, o filho de 7 anos, o sogro e uma amiga da família estavam indo para um chá de bebê. O músico foi atingido por três tiros e morreu na hora.

O sogro, Sérgio Gonçalves de Araújo, recebeu um tiro nas costas e outro no glúteo e está internado em estado estável no Hospital Albert Schweitzer ao lado de um homem, que estava no local, e tentou socorrer a família, mas foi atingindo por um tiro no peito.

Segundo Luciana Nogueira, não houve confronto, e os tiros começaram assim que o carro da família entrou na rua. ;Eu me senti protegida quando vi o quartel. Meu padrasto estava no banco da frente. O Evaldo já estava caindo no volante, mas falou ;corre com o Davi;. Eu abri a porta e disse que ajudava a levar o carro. Os vizinhos vieram para ajudar a socorrer.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação