Brasil

Troca de comando no ICMBio indica disputa interna no Meio Ambiente

Indicado pela ala militar do Ministério do Meio Ambiente, coronel reformado que ocuparia a presidência interina do ICMBio é descartado do posto de chefia

Luiz Calcagno
postado em 23/04/2019 13:45

Nota que nomeava coronel reformado foi deletada do site do Ministério do meio Ambiente, mas postagem permaneceu nos registros do googleOs desentendimentos entre funcionários indicados por ministros do presidente Jair Bolsonaro e militares se alastram pelo governo federal. Além do Ministério da Educação, o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles, também é palco das disputas.

Indicado como presidente interino do órgão na quarta-feira da semana passada (17/4), o coronel da reserva do Exército, Antônio César de Oliveira Mendes, coordenador geral de proteção do órgão, foi descartado do posto de chefia. No lugar dele, assume a presidência interina do ICMBio o diretor de pesquisa, avaliação e monitoramento da biodiversidade Regis Pinto de Lima, que permanecerá no cargo até que o comandante da Polícia Militar Ambiental de São Paulo, Homero de Giorge Cerqueira, indicado por Salles, possa assumir.

O Correio apurou que Mendes, agora dispensado pelo ministro, foi indicado após uma articulação do também coronel Antônio Roque Pedreira Júnior, chefe de gabinete do ministro. Ricardo Salles teria conversado com Regis Pinto de Lima e informado que ele seria o presidente interino em detrimento do coronel da reserva, ligado à ala militar do Ministério do Meio Ambiente. Reforça a tese a nota da comunicação do ICMBio que indicava o militar como interino. A publicação, postada em 17 de abril, foi apagada do site, embora ainda conste como postada no Google. A assessoria de imprensa da pasta nega que haja crise.


A indicação do coronel Mendes saiu dois dias após a demissão do antigo presidente, Adalberto Eberhard. Eberhard pediu demissão em 15 de abril, após o ministro, em uma palestra a ruralistas no Rio Grande do Sul, ameaçar investigar agentes que atuam no combate a irregularidades ambientais. A fala do chefe da pasta provocou uma crise na fiscalização ambiental no país.

Reestruturação

Outro fator que teria provocado a demissão do presidente do órgão é a conversa, nos bastidores, de uma possível reestruturação do instituto para aumentar o poder de governadores nos estados, com poder até para indicar as representações regionais, o que não ocorre hoje. Além disso, um dia antes da demissão de Eberhard, Jair Bolsonaro desautorizou fiscais do ICMBio a destruírem veículos usados por desmatadores, ação prevista na legislação. A fala do presidente estava em um vídeo postado nas redes.

;Ontem, o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, veio falar comigo com essa informação. Ele já mandou abrir um processo administrativo para apurar o responsável disso aí. Não é pra queimar ninguém, nada né, ninguém não, nada, maquinário, trator, caminhão, seja o que for, não é esse procedimento, não é essa a nossa orientação;, disse Bolsonaro.

O Correio entrou em contato com a assessoria do Ministério do Meio Ambiente, mas não havia recebido uma resposta até a última atualização desta matéria.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação