Estado de Minas
postado em 28/04/2019 12:42
São 27 anos de Vale, não passados diretamente na mineração, mas em processos relacionados ao minério. Gerente-executivo de excelência operacional de fevereiro de 2003 até o último mês de março, Marcelo Klein, de 50 anos, sempre esteve associado ao desenvolvimento de pessoas. O perfil de lidar com capacitação e, segundo ele, mostrar e resolver problemas, quebrando a cultura de hierarquia para driblar desafios, o credenciou a assumir a mais nova diretoria da empresa, com sede em Belo Horizonte, criada para fazer frente aos impactos sociais e econômicos sofridos em Brumadinho, na Grande BH, depois do rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão e também nas cidades evacuadas por causa do risco de outras tragédias.
Com a estruturação da Diretoria Especial de Reparação e Desenvolvimento, a Vale sinaliza que busca evitar a estratégia adotada depois do rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana, quando se criou a hoje desgastada Fundação Renova para dar conta das demandas socioeconômicas do desastre. Três anos depois daquela catástrofe, pouco se avançou no quesito indenizações e o aspecto assentamento também deixa a desejar em termos de agilidade.
Com a criação da nova diretoria, a mineradora que enfrenta os reflexos de Brumadinho parece seguir na direção de evitar intermediários e buscar enfrentar diretamente os efeitos da tragédia que provocou quase 300 vítimas, entre mortos e feridos, soterrou afluentes do Rio Paraopeba e deixou sem dormir milhares de pessoas que vivem no entorno de outras represas de rejeitos do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais.
Zona quente
A nova configuração organizacional começou a se desenhar em 26 de janeiro, dia seguinte ao desastre, quando o executivo foi convocado para ajudar no acolhimento às vítimas na Estação do Conhecimento, em Brumadinho. ;Fiquei duas semanas vivendo as experiências mais dramáticas, acolhendo pessoas e dando orientações num momento cujas dimensões ainda não se sabia muito bem quais eram;, relata. Depois, veio a organização para levar pessoas com casas atingidas ou que perderam imóveis para moradias provisórias. ;Se a busca é por uma diretoria para ajudar o atingido, nada melhor do que ficar na zona quente 24 horas;, afirma.
Formado em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em química industrial na PUC Rio, Klein passou pelas áreas de controle de qualidade, operação, planejamento, desenho de processos, estratégia e melhoria contínua. Antes de assumir a Diretoria Especial de Reparação e Desenvolvimento, ocupava o cargo de gerente-executivo de excelência operacional, cuja atuação se estendia a todas as unidades da Vale no Brasil e no exterior.
Agora, sai de sua base em Vitória (ES) para Belo Horizonte, onde está sediada a nova diretoria. A ideia é ficar mais próximo dos acontecimentos e humanizar a relação com as comunidades. O diretor garante que será diferente e chama a atenção para a necessidade de ouvir os atingidos e entender suas necessidades, em vez de impor modelos prontos. ;Legitimar as demandas é um dos maiores desafios. Estou muito preocupado em fazer a escuta ativa da comunidade e dar legitimidade. Reparação tem pouco a ver com dinheiro, e muito a ver com acolher as pessoas;, avalia o novo diretor, que toda segunda-feira tem assento garantido na diretoria executiva da mineradora para repassar diretamente à presidência o que está sendo feito e pedir apoio para o que for necessário.
Confira abaixo os principais trechos de entrevista concedida pelo novo diretor de reparação e desenvolvimento da Vale ao Estado de Minas.
Políticas de Atendimento
;Depois de duas semanas em Brumadinho, fui para BH coordenar todos os pontos de atendimento de maneira geral e reforçar a interface da Vale com a comunidade atendida. Quem está na ponta quer atender a tudo, mas aparecem exageros e abusos. E quem está na ponta retroalimenta também as políticas de atendimento. No meio do processo, aparecem exceções que nos levam a refletir sobre situações que não haviam sido pensadas. É tudo muito dinâmico.;
Nova vertente
;Até Brumadinho, a empresa tinha capacidade de relações institucionais pequena. Agora, viu a necessidade de aumentar muito essa vertente. Por isso, a Diretoria Especial de Reparação e Desenvolvimento tem foco na reparação humanitária, uma vez que há uma ruptura grande para a dignidade das pessoas. Lucros cessantes, atividades laborais, tudo o que foi interrompido na vida delas por causa da ruptura da barragem e o que a evacuação atrapalhou, nessa parte a Vale tem de entrar para fazer as indenizações. É uma reorganização, mirando em áreas estruturantes. No começo, minha área era o plano de respostas imediatas. Agora, começa a migrar para a estrutura de reparação perene, que é uma agenda de vários anos.;
Recontrução
;O foco da atuação vai do momento do impacto até a restituição da normalidade: reparação humanitária (financeira, de moradia), agropecuária, ambiental e recolhimento de material da barragem. Estamos trazendo para a diretoria um tipo de ;franquias;, concentradas em dar celeridade ao processo. Estamos usando como laboratório, para fazer tudo com mais velocidade. Temos uma dívida enorme com a sociedade e estamos espelhando esse novo ponto de vista de todos se ajudarem. É uma agenda de reconstrução. Moradores do Córrego do Feijão e do Parque Cachoeira já estão falando no futuro com a Vale. Estão nos permitindo fazer a reparação e seguir o caminho com eles. Além disso, é a reconstrução da nossa imagem. Poderemos ter a satisfação de as pessoas retomarem suas vidas com todo o esforço de nossa parte. A diretoria é especial porque foi mobilizada pelo rompimento; é de reparação porque temos que reparar o que foi destruído, e é de desenvolvimento pelo que deve ocorrer daqui por diante.;