Brasil

Centrais sindicais e movimentos de esquerda apoiam atos em universidades

O tamanho da paralisação ainda não está claro, apesar do esforço de união de centrais sindicais, antes adversárias

Maria Eduarda Cardim, Vera Batista
postado em 14/05/2019 06:00
Estudantes da UnB preparam faixas de protesto para as manifestações: corte de recursos do ensino catalizou apoio de outros grupos sociais

A greve marcada para amanhã no país será o primeiro grande teste para as esquerdas desde 2013. Há seis anos, movimentos ligados ao governo petista se dividiram, perderam força, dinheiro, poder e prestígio, cedendo lugar a grupos de tendência liberal. O tamanho da paralisação ainda não está claro, apesar do esforço de união de centrais sindicais, antes adversárias. A princípio, o mote era a reforma da Previdência. Agora, a pauta ganhou novos termos e adesões.

De certo modo, a própria equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro reforçou a ainda tênue união ao cortar verbas de instituições de ensino. Os atingidos enxergaram o aperto não como contribuição ao ajuste fiscal, mas estratégia deliberada para enfraquecê-los. Luiz Araújo, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSol), diz que estudos apontam corte orçamentário de R$ 5,8 bilhões, podendo chegar a R$ 7,3 bilhões. ;Somente para o ensino superior, foram mais de R$ 2 bilhões, além do bloqueio de 7% no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). As instituições de ensino estão à míngua;, afirma Araújo.

;O corte de cerca de 30% nas verbas ; de 42% em alguns casos ; já deixa terceirizados sem pagamento, segurança e material de limpeza. Desde 2014, tivemos cortes sucessivos que nos enfraqueceram. É por esse motivo que, até o momento, 90% das universidades públicas decidiram parar e outras carreiras e entidades passaram a nos apoiar;, afirma Eblin Forage, secretária-geral do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes). A greve nacional da educação é considerada o ;esquenta; para a greve geral de 14 de junho, por aposentadoria e empregos.

De acordo com Gil Castello Branco, da Associação Contas Abertas, o bloqueio, na realidade corresponde a 3,5%, quando se considera o orçamento global das universidades federais. Isso porque o corte foi aplicado somente aos recursos discricionários, aqueles que as instituições podem decidir onde aplicar, mas não sobre gastos obrigatórios, como os salários de funcionários e professores, que representam 80% do total.

A decisão de apoio aos professores e estudantes aconteceu no último dia 10 em reunião das principais centrais sindicais com movimentos sociais (frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, Frente Nacional dos Evangélicos pelo Estado de Direito, e partidos políticos como PT e PCdoB). ;Vamos juntos visitar os estados, centros e periferias, locais de trabalho, gabinetes em Brasília e conversar com setores importantes da igreja, dos movimentos de mulheres, negros, LGBTs e juventude para a grande mobilização em 15 de maio e a maior greve na história deste país, em 14 de junho;, diz Sérgio Nobre, secretário-geral da CUT.

O presidente do Andes, Antonio Gonçalves, acredita que a adesão à paralisação aumentou com os cortes anunciados e que o governo já sente o impacto da mobilização. ;Não dá para dizer que o foco deixou de ser a reforma da Previdência e passou a ser o corte, porque está tudo interligado. Queremos derrotar todas essas políticas neoliberais. É uma pauta que interessa a toda a sociedade. No dia 15, vamos parar nossas atividades e vamos para a rua.; O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, acredita que as manifestações nas ruas vão crescer. ;Temos visto muitas manifestações em diversas universidades. As pessoas percebem que as maiores prejudicadas são elas mesmas e isso leva a uma tomada de consciência;, avalia.

Já a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), apoiadora do governo, lembra que as últimas manifestações contra a reforma da Previdência, por exemplo, foram pequenas. ;Não vimos manifestações tão grandes como no impeachment da ex-presidente Dilma. Não devem ter o tamanho que estão achando;, ressalta. Mas Carla admitiu que os atos serão uma forma de medir o ;termômetro da oposição;. ;É mais um teste para a oposição. Das últimas vezes, não foram muito felizes. Ou havia pouca gente, ou havia violência;, completa.

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