Ronayre Nunes
postado em 22/05/2019 20:20
Nesta terça-feira (22/5), a capital da república recebeu a visita cantora e ativista Daniela Mercury. Dessa, vez, a baiana não a Brasília para um show. O encontro fazia parte de uma agenda social, uma roda de conversa sobre igualdade e empregabilidade LGBTI, promovida pela Procuradoria Geral do Trabalho (PGT).
[SAIBAMAIS] A ideia do órgão é elaborar um Plano de Trabalho de Promoção da Igualdade e Empregabilidade na capital, e o evento teve por objetivo uma parte fundamental: ouvir a população. A participação de Daniela não foi para menos. A artista é uma das representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) para Igualdade. Além disso, especialmente após o casamento com a jornalista Malu Mercury, a cantora é militante na causa LGBTI, onde luta e prega a igualdade de gênero e a conscientização sobre a violência social da comunidade gay e trans no Brasil .
"Estamos aqui por vontade própria, sem nenhuma ligação com qualquer partido, com qualquer questão política. Estamos presente como uma sociedade civil, que como qualquer cidadão, se preocupa com o país;, afirmou Daniela.
Entre muita cantoria acapela ; entrou no repertório até o clássico Coração civil, de Milton Nascimento ;, Daniela fez questão de lembrar o quanto a arte faz parte de uma voz ativa na luta por igualdade social: "A arte é afeto, é amor. Quando eu casei com a Malu eu já tinha família consolidada e sempre fiquei ;e ai? Vocês vão parar de gostar de mim agora?; A minha atuação é de uma artista internacional que tentar lutar contra qualquer discriminação, por saber sobre essa discriminação".
Além da cantora e a esposa, estavam presentes na mesa o próprio procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury ; que até acompanhou Daniela durante alguns versos dos grandes hits da cantora; João Pedro Passos, secretário de Estado do Trabalho do DF; Ana Tulie Araújo, diretora executiva da União Libertária de Travestis e Transsexuais, e Thais Dunêt Faria, oficial técnica de direitos fundamentais.
Ao Correio, o procurador explicou que a presença de artistas para apresentação de trabalhos não é feito aleatoriamente. Segundo ele, o convite às celebridades faz parte da ação, que visa chamar atenção da comunidade para problemas sociais que geralmente não são muito debatidos: "Nós já temos um trabalho na defesa da população mais sensível. Muitas vezes há um acúmulo de discriminação, que não permite que essas pessoas tenham liberdade e cidadania. Então, nós temos de chamar a atenção para isso, e nada melhor do que chamar pessoas que tenham grande renome, como a Daniela Mercury, como a Paola Carosella, que já trabalha conosco há muito tempo, a poetisa Elisa Lucinda".
"Para a pessoa não ter acesso ao mercado de trabalho precisa ter uma justificativa. Pode ser porque ela não tem aptidão, ou porque não gosta. Mas não por ser lésbica, transsexual ou outros. Isso não pode. Temos de quebrar essa ideia, e ouvir essas experiências de quem tem local de fala.O que o Ministério do Trabalho quer é que essas pessoas sejam tratadas como iguais, sem discriminação;, conclui Fleury.
Criminalização da homofobia
A fala de Malu foi breve, porém tocante. A esposa de Daniela lembrou sobre a importância da criminalização da homofobia como um passo sólido na luta contra a desigualdade: "É triste pensar que eu posso ser assassinada só porque sou sapatão. Não porque fiz algo a alguém, mas pelo simples fato de ser. Outra pessoa pode ser morta porque é negra. É algo duro de mais. Eu me emociono, porque tenho vários privilégios como uma mulher branca, de classe média, mas sei na pele como é sentir essa discriminação", disse.
Acompanhando a esposa, Daniela completou sobre a homofobia como uma forma de discriminação. "A homofobia não é argumento para impedir a dignidade dos LGBTs, não é argumento para privá-los de direitos. Não há argumento para impedir uma cidadania e liberdade plena", argumentou.
A artista ainda lembrou que a luta por uma maior igualdade está ligada à prática, já que na teoria, o Brasil tem grandes referências: "Não dá para aceitar qualquer discriminação. Isso já está claro na nossa Constituição Federal, mas infelizmente há uma grande distância entre o que está no papel e o que está de fato na realidade".
Nesta quarta-feira (22/5), a proposta para incluir na Lei do Racismo a discriminação por orientação sexual ou de identidade de gênero foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Entretanto, o texto aprovado é um substitutivo, e ainda precisará passar por turno suplementar na CCJ.
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