Brasil

Crianças desfilam em shopping durante evento para serem adotadas

Segundo os responsáveis pelo o evento, o objetivo era 'dar visibilidade a crianças e adolescente aptas para adoção'

Ingrid Soares
postado em 22/05/2019 19:22
Crianças entre 4 a 17 anos desfilaram em uma passarela montada em um shopping em Cuiabá, na chamada 'Adoção na Passarela'
Uma ação organizada pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara), em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso (OAB-MT) e outras entidades do Estado causou polêmica. Isso porque os órgãos fizeram com que crianças entre 4 a 17 anos desfilassem em uma passarela montada em um shopping em Cuiabá, na chamada "Adoção na Passarela". Cerca de 200 pessoas, interessadas acompanhavam da plateia.

O caso ocorreu na última terça-feira (21/5). Segundo os responsáveis, o objetivo era ;dar visibilidade a crianças e adolescente aptas para adoção. E como sempre dizemos: o que os olhos veem o coração sente;, dizia o comunicado. A ideia foi duramente criticada na internet. As pessoas alegaram que o desfile expõe as crianças como mercadorias ou pets.

;Será uma noite para os pretendentes, pessoas que estão aptas a adotar poderem conhecer as crianças. A população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e as crianças em si terão um dia diferenciado em que elas irão se produzir, cabelo, roupa e maquiagem para o desfile;, explicou Tatiane de Barros Ramalho, presidente da CIJ.

A professora de direito da Universidade de São Paulo (USP), Maristela Basso, se mostrou horrorizada com a medida. ;Estou custando a acreditar. Voltamos ao tempo da venda de escravos. Não tem mais flagrante porque já aconteceu. Mas o Ministério Público tem que denunciar por violação do ECA. Eles violaram a declaração universal dos direitos da criança, a declaração universal dos direitos humanos e a declaração das metas para o milênio. É um ato bárbaro, é retroceder no processo civilizatório. Os responsáveis devem ser processados;, apontou.

Ela explica ainda que caso a instituição seja credenciada pelo fórum local, deve perder esse direito. ;Não há como manter essa função. As crianças que vivem em orfanatos já tem seus traumas que levam para sempre. Aí vem mais esse da exposição, onde elas foram julgadas e apreciadas pela aparência. Isso é uma loucura. Cria a perspectiva de que elas precisam de algo mais para serem adotadas, quando não é a aparência que pesa na adoção, são outros valores. Isso faz deformação na psique. Cria um trauma da auto aceitação;, observou.

O ex-candidato à presidência da República pelo PSOL, Guilherme Boulos, também se posicionou no Twitter e considerou o desfile uma ;perversidade inacreditável;. A "passarela da adoção", em Cuiabá, expondo crianças de 4 a 17 anos para a escolha dos pretendentes pais é de uma perversidade inacreditável. Os efeitos psicológicos da exposição, expectativa e frustração dessas crianças pode ser devastador, ainda que a intenção tenha sido outra".Os internautas também cobraram providências por parte do Ministério Público e do Conselho Tutelar. Já a assessoria da OAB-MT disse que na primeira edição o evento foi bem recebido e só neste ano recebeu críticas. A OAB-MT afirmou ainda que o evento tem "embasamento jurídico" e que as entidades organizadoras se reunirão para debater o caso.
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O Pantanal Shopping, local onde ocorreu o evento informou por meio de nota que repudia a objetificação de crianças e adolescentes. ;O Pantanal Shopping esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que possuem legitimidade no assunto. O shopping afirma que a ação foi promovida pela Associação Mato Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT e reitera que o evento contou ainda com o apoio do Ministério Público do Estado do Mato Grosso, Poder Judiciário do Estado do MT, Governo Estadual do MT, Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania, Sindicato dos Oficiais de Justiça, Associação Nacional do Grupo de Apoio à Adoção e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, além do Tribunal de Justiça do Mato Grosso;, afirmou em um trecho da nota.

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