Brasil

Investigações obstruídas

Relatório da Polícia Federal acusa o PM Rodrigo Ferreira de ter criado uma narrativa falsa sobre a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes para atrapalhar as apurações sobre o caso

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 24/05/2019 04:26
Marielle Franco foi atingida por quatro tiros na cabeça após participar de um debate com jovens negras na Lapa, no Rio de Janeiro


Investigação da Polícia Federal, que resultou num relatório com mais de 600 páginas, identificou uma organização criminosa que atuou para obstruir as diligências relacionadas ao assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes. O documento foi enviado pela corporação ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). De acordo com a PF, o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, conhecido como Ferreirinha, criou uma versão falsa do homicídio para tentar confundir as autoridades.

Ferreira acusou o policial Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, e o vereador Marcelo Siciliano de tramarem o assassinato de Marielle. De acordo com ele, a morte teria ocorrido por causa do avanço de ações comunitárias lideradas pela vereadora na área dominada pela milícia da qual os dois faziam parte. No entanto, a PF aponta que ele tinha medo de ser morto por Curicica e queria dominar a área comandada por ele. Em decorrência disso, fez afirmações falsas.

A advogada Camila Nogueira também é acusada de fazer parte da organização que tentou atrapalhar as investigações. A defensora nega, diz que desconfiou da versão do cliente e que foi usada por ele. A informação sobre o relatório foi publicada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, e confirmada pelo Correio junto a fontes da PF. De acordo com informações obtidas pela reportagem, as diversas inconsistências no depoimento de Ferreira chamaram a atenção das autoridades por destoarem das provas e das apurações feitas por meio do depoimento de outras testemunhas. O relatório será analisado agora pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge.


Dodge determinou a abertura de investigação sobre o assunto no ano passado, quando o então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, foi a público dizer ter identificado que autoridades locais atuavam para impedir o avanço das investigações relacionadas ao caso. Jungmann citou, na época, a existência de uma organização criminosa. Em março deste ano, o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz foram presos, acusados de serem os autores dos assassinatos.

Silêncio
Ronnie Lessa teria sido o autor dos disparos que mataram as vítimas, e Élcio, o motorista do automóvel usado na execução. Ambos ficaram calados frente ao questionamento das autoridades. A PF não entrou no caso em si, mas apenas na apuração sobre entraves no avanço das diligências.

O trabalho da Polícia Civil do Rio de Janeiro continua. Agora, as autoridades buscam descobrir quem foram os mandantes do crime e quais seriam as motivações. A PF não apontou envolvimento de agentes da Polícia Civil com o esquema criado para impedir que os articuladores das mortes fossem identificados. Um delegado da PF também virou alvo do inquérito aberto para avaliar a evolução do caso, mas nenhum comportamento inadequado foi apontado contra ele.

14 meses
Período desde o duplo assassinato


Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação