Jornal Correio Braziliense

Brasil

Futurista e inovadora



Na baía, outras duas embarcações estão ancoradas: o navio de apoio oceanográfico da Marinha do Brasil Ary Rongel e o cargueiro Magnólia em que se encontram todos os entulhos e sucatas retirados da estação anterior, que sofreu um trágico incêndio, em 2012. No episódio que chocou o país, dois marinheiros brasileiros perderam a vida.

É no Magnólia onde 263 trabalhadores da empresa chinesa contratada moram. Vieram das regiões mais frias daquele país. Estão adaptados às baixas temperaturas em solo antártico. A Corporação Chinesa de Importações e Exportações Eletrônicas (Ceiec) foi a vencedora da licitação de US$ 99,6 milhões (R$ 500 milhões) para a construção. Pelo contrato, a empresa é obrigada a seguir a legislação trabalhista brasileira (principalmente a de segurança) até o fim dos serviços. Sete fiscais designados pela Secretaria da Comissão Interministerial de Recursos do Mar (Secirm) monitoram toda a estação ; são cinco engenheiros navais da Marinha e dois do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Há também um grupo-base composto por 16 militares que fica permanentemente na EACF.


Um concurso público escolheu o projeto vencedor. O escritório de arquitetura paranaense Estúdio 41 levou a disputa. Toda a obra, desde a pré-montagem em Xangai (China), foi supervisionada por militares da Marinha. O capitão de fragata Luiz Filho, chefe da Estação Antártica Comandante Ferraz, explica ao Correio a importância das novas instalações para a comunidade científica. ;Ela estará dotada de vários laboratórios, dando plena infraestrutura aos pesquisadores para estudos e coleta de informações.;

Desde 2013, o capitão de fragata e engenheiro José Costa trabalha no projeto da nova estação. ;Em janeiro daquele ano, fui transferido para Brasília, onde comecei a atuar no projeto de reconstrução da estação. Participei do processo licitatório à fiscalização da obra, que começou em 2015. Somos uma equipe multidisciplinar, com engenheiros de várias especialidades, mecânicos, eletricistas, de controle, todos fazem parte do grupo que controla cada passo da obra.;


Pesquisa é prioridade

É mesmo uma construção de se ter o orgulho demonstrado pelos militares da Marinha entrevistados. O capitão-tenente e engenheiro naval Cristóvão Chaves, encarregado da área de engenharia mecânica, aponta o modelo inovador de geração de energia da base. ;O sistema de cogeração de energia, atrelado às fontes renováveis (um parque eólico e de energia solar), nos proporcionou um modelo revolucionário, que tem o potencial de prover toda a demanda elétrica e térmica, sem precisar de nenhum equipamento para aquecimento a diesel;. Dentro da nova base, a temperatura é bastante agradável, em torno dos 25;C ; a temperatura fora pode variar de -13;C a -80;C nos períodos mais frios, e a velocidade do vento chega a mais de 200km/h. Inóspito? Muito mais!

A EACF é dividida em três blocos, explica Cristóvão Chaves. São o Leste, Oeste e o Técnico. Montados no conceito modular, foram 226 módulos conteinerizados. Nós temos aqui 17 laboratórios, entre as partes, por exemplo, de biologia e de geologia. Estaremos totalmente preparados para pesquisas;. Os equipamentos de última geração ainda devem chegar na janela do verão, em outubro. Porém o arrojo técnico do acabamento das instalações impressiona.


Para entender um pouco mais como foi a construção da estação, o capitão José Costa conta que, devido ao curto espaço de tempo em que os operários podem trabalhar no ambiente inóspito da Antártica, toda a estação foi pré-fabricada na China em módulos. ;Esta biblioteca aqui, por exemplo, veio montada com os forros e paredes. Aqui a gente faz as junções de um contêiner com o outro.;

No bloco Oeste, onde está a biblioteca, é a parte de vivência, com dormitórios, academia e sala de vídeo. No bloco Leste, temos 14 laboratórios nas instalações da estação e mais três afastados, tudo isso na ala sul. Na ala norte do mesmo bloco, temos a parte de serviços da estação, refeitório, cozinha, com oficinas e consultórios médicos e enfermaria, além da área de controle da estação, onde ficará o sistema de controle centralizado, que pode monitorar o consumo de energia de cada compartimento, o consumo de água da estação, etc. Até o calor gerado pelas máquinas é usado para aquecimento da estação.

;No bloco técnico, ficam os equipamentos de geração de energia, caldeira e a estação de tratamento de esgoto e de incineração de materiais orgânicos;, completa o capitão de fragata. No caso de incêndio, existe a possibilidade de estancar os compartimentos para que o fogo não se alastre e seja controlado. Todas as paredes resistem ao fogo de 30 a 210 minutos. A estação conta com nove saídas de emergência.