Uma das maiores virtudes de qualquer político é ter sensibilidade. É preciso estar atento às urgências que emanam das ruas, escutar e enxergar as necessidades do povo, estar próximo da sua realidade. E, por tabela, saber catalisar os anseios da sociedade, defendendo seus direitos e garantias. Essa tarefa se apresenta mais eficaz quando feita em conjunto. Uma coletividade construindo pontes, não muros.
Construir pontes não significa esquecer os próprios ideais, mas saber dialogar com quem pensa diferente em relação ao que está em jogo, as políticas de Estado. E agora, na Câmara, estamos vivendo momento de sintonia com a população em prol da educação. Antes mesmo das passeatas do dia 15 contra os cortes do MEC, instalamos uma comissão externa parlamentar para acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos desse ministério. A deputada Tabata Amaral deu a partida e montamos um time jovem para tocar o grupo, que é suprapartidário e representa a renovação de fato. Tive a alegria de ser escolhido vice-coordenador e, ao lado dela e do deputado Felipe Rigoni, coordenamos a comissão.
O colegiado atuará em duas vias: primeiro, com a análise do planejamento estratégico do MEC, assim como de suas secretarias e demais órgãos, examinando a execução dos programas e, nos casos negativos, se foram substituídos por novas ações. Concomitantemente, serão verificados os pontos críticos detectados até então, como o bloqueio linear de 30% dos recursos discricionários de todas as universidades federais e os problemas com o Saeb e o Enem ; neste último caso, de responsabilidade do Inep, instituto que teve mais um dos seus presidentes afastado na semana passada.
De saída, o nosso maior desejo é pavimentar um caminho institucional para canalizar o sentimento da população em defesa do ensino brasileiro. E o jogo está claro, não é mera oposição ao governo, muito menos colocar o Congresso contra o Poder Executivo. Já a vitória, simples: garantir a educação pelo povo. E essa conquista, claro, passa pelo aumento nos investimentos em instituições públicas, do ensino básico ao superior. Segundo a Capes, mais de 95% da produção científica do Brasil é feita nas universidades públicas. E das nossas 20 universidades líderes em produção científica, 15 são federais e cinco estaduais. E, mesmo assim, faltam recursos.
Conforme ranking da OCDE de 2015, não estamos sequer entre os 10 principais países investidores em estudantes universitários. Logo, reitero, falta investimento. O desafio de investir na educação básica não é justificativa para descuidar do ensino superior. E aproveito para lembrar que, infelizmente, o corte na educação básica também é uma realidade: foram R$ 2,4 bilhões bloqueados.
Em tempo, registro a minha experiência universitária. Vivi na prática o ambiente acadêmico. Fui estudante de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), tive a minha participação em pesquisa, sendo aluno do Programa de Iniciação Científica (mais conhecido como o Pibic, do CNPq), e vi na universidade um ambiente de inclusão, em que os mais esforçados e talvez os melhores alunos sejam oriundos da escola pública. Nesse último aspecto, segundo recente pesquisa da Andifes, associação que reúne reitores das universidades federais, a maioria dos seus alunos tem renda baixa (70,2%). Uma transformação social a partir das bancas escolares, como em todos os demais exemplos de países desenvolvidos.
Enfim, essa é a verdade incontornável: a universidade é sinônimo de inclusão, produção científica e desenvolvimento. Contingenciamento na educação é andar para trás. E, com a presente comissão, seremos apenas um caminho institucional para, com muita humildade, representar uma solução que, impreterivelmente, passe pelo povo. Os cortes e desmandos do governo federal não são alvo de enfrentamento por uma oposição composta apenas por parlamentares, são motivo de luta e resistência por parte de toda a nação. Unidos, somos fortes e cresceremos juntos.